A Mágica da Arrumação – Marie Kondo

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Às vezes compramos tantas coisas em prol de nosso conforto que não nos damos conta de que algumas delas acabam esquecidas. A sociedade de consumo leva os seus a crer que há a necessidade de se ter sempre mais. E com tanta coisa, experimentamos de vez em quando a estranha sensação de estarmos soterrados pelos nossos pertences. Pode parecer difícil manter tantos objetos assim organizados.

A partir desse aspecto, a japonesa Marie Kondo desenvolveu seu próprio método de organização e dedica sua vida a repassar essa tarefa aos outros. Toda a sua filosofia se baseia na ideia de que, se pararmos para pensar, não precisamos de tantas coisas assim. Por tanto, para começar uma boa organização, é preciso eliminar os excessos. A autora atribui uma certa espiritualidade aos objetos. Para ela, entender seu propósito e que sua missão foi cumprida facilita o processo de desapego e descarte do objeto. Ao tratar nossas posses com o respeito de alguém que trabalha por nós, criamos um ambiente mais agradável e convidativo.

Para ensinar sua técnica, a autora compartilha sua própria experiência, tanto com sua família quanto com seus clientes. A sensação é que a obsessão de Marie Kondo com organização chega próximo a níveis de neurose. Kondo soa um pouco exagerada em suas dicas. Exageros em geral atrapalham: não respeitam os outros e se fecham a qualquer possibilidade de flexibilidade.

Separar um momento para se desfazer de coisas que não se usa mais, que não gostamos e até que nunca usamos, é algo saudável. A sensação de libertação é ótima. Abrir espaço e ter a possibilidade de escolher se esse espaço precisa ou não ser preenchido novamente é muito bom. As coisas que possuímos sempre vêm com uma história, com uma lembrança. São coisas que ganhamos, e compramos, em determinada situação por um determinado motivo. Algumas lembranças precisam ser descartadas para que possamos seguir em frente; outras são importantes apoios para nossas vidas. Cada pessoa tem uma história diferente e única. A técnica de Kondo às vezes parece não se preocupar muito em respeitar essa história.


Nada pode ser levado tão à risca. Nada pode ser encarado de forma tão binária, tão sim e não. Para que a convivência com outras pessoas e com suas próprias coisas funcione, há que se ter um pouco de flexibilidade. As lições de Marie Kondo podem ser aproveitadas em sua essência, mas não dá para assumi-las como verdade universal e soberana. Algumas dicas são realmente boas, mas outras precisam de um pouco de reflexão para decidir se elas se adequam bem ou não à realidade de cada um. Bom senso e pensamento crítico são as palavras de ordem para se aproveitar da melhor maneira a obra.

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Ensaio sobre a chatice

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Eu sou uma chata. Sou um pé no saco, um completo porre. E sou tudo isso por um simples motivo: eu gosto de conversar. Acredito piamente que uma boa conversa pode resolver (quase) todos os problemas. Na minha humilde opinião, uma simples conversa poderia evitar (e ter evitado) muitos conflitos de todas as proporções.

Só que a partir da minha geração ninguém mais parece gostar de fazer isso. Aliás, se você quer afastar alguém, diga que quer conversar. Sempre funciona. Essa nova geração de gente que “está sempre certa” não aprendeu a dialogar. A única coisa que eles aprenderam foi deixar para lá, ignorar ou fugir dos problemas. Eles “deixam a poeira baixar” antes de retomar uma relação (quando retomam), sem pedir desculpas, sem pensar na situação como um todo e, principalmente, sem se colocar no lugar do outro. Para conversar com essa gente, nas cada vez mais raras ocasiões em que isso é possível, só por mensagem de texto. Telefone? Jamais. Ninguém mais fala ao telefone. Pessoalmente, então? Muito menos; exige muito mais bravura – e essa geração carece disso em doses cavalares.

Vivemos a era da pressa, do agora ou nunca. Os meios se substituem numa tentativa de evolução. Hoje aplicativos fazem as vezes de antigos sites, como Amigos Virtuais, Par Perfeito, e “n” outras opções de sites de relacionamento. Mas ninguém está interessado em conhecer outras pessoas mais a fundo. Mais uma vez, o problema da bravura: a coragem de verdadeiramente conhecer outras pessoas parece ter se extinguido. E conhecer melhor alguém exige uma boa dose de coragem. É como se a pessoa não fosse capaz de lidar com seus próprios defeitos e projetasse no outro a expectativa surreal de aceita-los, sem recíproca. Relacionamentos são vias de mão dupla, mas essa geração é egoísta demais para entender isso – e tendem a achar isso errado. Até quem deixa bem claro em seus perfis que têm a intenção de conversar e conhecer melhor o outro falha em fazer isso na prática. Aí a máscara cai e percebe-se quem realmente disse o que queria e quem simplesmente copiou palavras bonitas de outro lugar.

Eu confesso aqui que já usei esses sites para conhecer pessoas. Porque, para mim, não tem como você ir para um site desses esperando 100% um relacionamento amoroso. Para essas coisas darem certo, você tem que ir de mente aberta, porque pode ser que na prática não funcione o relacionamento com o outro, e não é culpa de ninguém. (Relacionamentos “ao vivo” com frequência não dão certo; por que algo nascido do virtual tem que ter essa obrigação?) Então por que não aproveitar a oportunidade de ter conhecido alguém novo, fora do seu círculo comum de convívio? E posso dizer que, assim, despretensiosamente, conheci grandes amigos dessa forma. E depois de tantos anos ainda somos amigos. E com alguns foi justamente o fato de nos darmos o tempo certo de nos conhecermos melhor é que fez com que nos apaixonássemos ou não. Porque deu certo. E se não desse, tudo bem; eu já estaria extremamente feliz por ter conhecido essas pessoas incríveis que eles são. Azar de quem não teve essa perspicácia.


Por essas e outras eu volto assumir aqui: por isso sou uma chata de galochas. Um pé no saco. Um completo porre. Mas não acho que eu esteja errada. Nem que isso seja de fato um defeito. E nesse ponto eu não vou mudar tão fácil.




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Qual a diferença?

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Na teoria a lei aborda uma ação realizada em uma estrutura hierárquica. Mas e quando um amigo é quem assedia? Qual a diferença de um chefe, professor ou familiar assediar uma pessoa e de alguém que se diz amigo fazer isso? E um estranho na rua, no bar, na balada?

O problema está no peso que se dá às palavras e à situação. Quando se trata de alguém próximo (família, trabalho, ambiente acadêmico), a coisa parece hedionda. Quando parte de um estranho, é igualmente ruim. Mas se é um amigo o ator da ação, as pessoas parecem achar que não é tão importante assim. Algumas até vão dizer que a pessoa que está reclamando do assédio está exagerando, que não foi nada disso. O assediador na verdade é um galanteador que não perde uma oportunidade. E isso reduz automaticamente a sua culpa em um ato normal e mal interpretado.

Vivemos em um mundo de inversão de valores. Atos graves que acontecem todos os dias têm se tornado tão comuns que caíram na banalidade no conceito das pessoas. Ora, se o respeito deve imperar, um único “não” deve ser mais do que o suficiente para que o outro não insista em constranger, ou seja, em forçar a pessoa não fazer o que ela não quer.


Não estou dizendo que a arte da conquista está fadada a se extinguir. Muito pelo contrário; conquistar tem muito disso: convencer o outro de seus atributos, sem ter que força-lo a te “engolir na marra”. Uma vez que você precise usar de força ou de violência psicológica para conseguir o que quer, você não tem atributos para conquistar ninguém, você não passa de um incompetente. E pior: você é mais um babaca, mais um criminoso solto no mundo pela impunidade, seja por força da lei, seja por força de uma sociedade negligente e hipócrita, que tolera alguns tipos de violência mais do que as outras pelo simples ato de dar a eles um nome que não lhes cause tanto mal-estar.

Violência tem várias formas, e alguns nomes a amenizam, especialmente aos olhos do agressor. Excesso de amor às vezes é sinal de que o amor já se foi há muito tempo (se é que algum dia existiu), e toma ares de obsessão - doença psiquiátrica que ninguém assume que tem, mas que só tende a piorar. E um louco sempre enlouque gente sã, levando-os para o mesmo caminho de doença. O ideal é se "cultivar", se amar e prestar atenção em você. E quando perceber que está em um relacionamento que bem não faz, o melhor é fazer de tudo para se livrar disso, se afastar até uma distância segura para a sua saúde. Recomendo o excelente vídeo da Jout Jout sobre o assunto.


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Lembranças

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Se você morresse hoje, o que teria feito? Teria realizado todos os seus desejos? Teria feito a diferença na vida de alguém?

Um inconformado por natureza, Tyler (Robert Pattinson) é o filho do meio de uma família moderna. Seus pais são separados e ele e a irmã mais nova moram com a mãe (Lena Olin) o padrasto. O pai (Pierce Brosnan) é um importante empresário que não tem tempo para a família, e acha que faz o suficiente apenas custeando as necessidades dos filhos.

Tyler nunca se recuperou completamente da perda do irmão mais velho, que se suicidou. Apaixonado por sua irmã mais nova, faz de tudo para vê-la feliz. O que o deixa extremamente enfurecido é ver a indiferença dos outros para com ela, especialmente quando se trata do próprio pai que, para ele, coloca simplesmente tudo à frente da família. Seu grande senso de justiça sempre acaba metendo Tyler em enrascadas ao se propor a defender o que é certo. O tamanho do problema que ele atrai pouco importa; seu desejo é ver todas as coisas acontecendo da forma certa.

Todos os acontecimentos na vida de Tyler acabam tornando-o um jovem bem introspectivo. Na faculdade tem apenas um amigo, Aidan, cujo comportamento é totalmente o oposto dele. Buscando apenas diversão, Aidan propõe um desafio a Tyler: conquistar a filha de um investigador durão, a bela Ally Craig (Emilie de Ravin), que estuda na mesma universidade que eles, e depois dispensá-la. O que Tyler não sabe é que a história que Ally esconde por trás de seu sorriso fácil e de sua atitude sempre positiva é bem mais complicada do que imagina: Ally assistiu ao assassinato de sua mãe aos 10 anos de idade, e desde então desenvolveu algumas manias como forma de autoproteção.

Lembranças é um filme de uma delicadeza ímpar. Com naturalidade, explora vários dramas reais do dia a dia de quem vive em grandes centros. A questão mais profunda tratada no filme é a reflexão sobre o que você faz hoje. Depois da morte do irmão, Tyler cria o hábito de escrever em um caderninho, como se estivesse dialogando com o falecido irmão, sobre seus pensamentos. O pensamento mais recorrente em suas discussões de via única é justamente sobre o que ele está fazendo nessa vida. Ele se pergunta se vão se lembrar de quem ele foi ou das coisas que ele fez enquanto estava vivo e se isso vai importar alguma coisa depois que ele morrer. Ally tem uma preocupação parecida: para ela, é melhor aproveitar o momento para fazer o que quiser no exato momento em que tiver vontade, pois, se por algum infortúnio ela vier a morrer naquele momento, pelo menos ela saberia que morreria feliz por ter realizado aquele desejo a tempo.

Tempo é uma medida muito subjetiva. A subjetividade se dá provavelmente pelo fato de não se poder prever o que acontecerá nos próximos minutos, horas, dias, anos. Nesse cenário, decidir-se por fazer algo e colocá-lo em prática, que parecia uma tarefa fácil, passa a ser bem complicado diante da perspectiva de uma morte repentina. Mais do que aproveitar a vida, o filme fala sobre aproveitá-la com qualidade, de forma que sua vida tenha de fato algum significado, nem que seja para apenas uma pessoa no mundo todo.


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O Corcunda de Notre Dame

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Não é possível ler duas vezes o mesmo livro ou assistir ao mesmo filme. Isso porque, na segunda vez que você fizer isso, verá a obra a partir de outro ponto de vista. Numa segunda leitura você já saberá de algumas informações e terá outras a acrescentar. São várias as coisas que tornam as obras únicas a cada vez que as apreciamos.

A última vez que assisti ao filme O Corcunda de Notre Dame, da Disney, eu ainda era criança. Acho linda a história de Quasímodo e Esmeralda. Sem querer descobri que Quasímodo significa “feito pela metade”, um nome criativo inventado pelo autor da obra original, Notre-Dame de Paris, Victor Hugo.

Vendo o filme novamente agora, depois de certa idade, pude perceber outras coisas. A história vai muito além de um musical romântico para crianças. Ele traz questões que na verdade são profundas demais para a cabeça de uma criança.

Quasímodo é criado por Frollo, ministro da justiça que enfatiza a todo o momento a sorte que o corcunda tem de ter um destino tão cômodo. E para manter esse conforto todo, a única coisa que ele deve fazer é se ocultar do mundo e obedecer às ordens de seu mestre. Em nenhum momento Frollo se permite ser chamado de pai, apesar de ter criado Quasímodo desde a infância. Em outras palavras, enquanto soubesse controlar sua curiosidade e obedecesse à risca as regras que lhe foram impostas, Quasímodo tinha permissão para viver em paz no seu cantinho.

A bela Esmeralda é uma personagem riquíssima na obra. Mulher independente que vai à luta pela sua sobrevivência, também é audaciosa e defende com furor seus ideais. Esmeralda representa a diversidade, as minorias: como cigana, ela é perseguida como uma criminosa, mas se indigna com a discriminação sem motivo algum. Ela acredita ser possível que todos convivam muito bem, independente de quem sejam ou do que fazem ou acreditam. Somado a isso tudo está sua beleza estrondosa: Esmeralda é dona de uma beleza marcante e nem um pouco discreta que não pode evitar atrair a atenção de todos.

Além de ser o vilão da história, Frollo, acaba revelando outro viés de sua personagem. Entre a cruz e a espada, entre a política e a religião, que têm poder quase equivalente na França renascentista, o ministro da justiça tem que dar o exemplo de correção de conduta e austeridade. Porém, ao conhecer Esmeralda, suas crenças são colocadas à prova. Claramente ele quer a cabeça da cigana, para fazer cumprir a lei, mas também a deseja com luxúria. Arrogante em seu patamar de poder, ele dá ainda a chance de Esmeralda escolher: uma vida de servidão sexual a ele ou a morte. Ele seria a única chance de sobrevivência da cigana, mas, novamente, apenas se ela ficasse sob seu comando, submissa e sem questionamentos.

O francês Victor Hugo dedicou suas obras à critica dos problemas sociais de seu país, especialmente os que dizem respeito às diferenças de classe. Ele comprou verdadeiramente a causa e escreveu várias obras sobre o assunto, as mais famosas, Os Miseráveis e o próprio Notre-Dame de Paris.

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Entre a banalidade e a agressão

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Segundo o dicionário, assédio é “a insistência em se aproximar de alguém”. Segundo o artigo 216-A da Lei nº 10.224, assédio sexual é “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. A pena para esse crime é 1 a 2 anos de prisão.

O uso de força para essa ação pode-se considerar uma espécie de hierarquia: o mais forte tem poder sobre o mais fraco. No ambiente de trabalho ou acadêmico, um chefe ou professor exercem poder.

No caso da mulher, o assédio sexual é uma questão mais complicada. A passos de formiga conseguimos algum reconhecimento da lei, com avanços importantíssimos como a lei Maria da Penha. Mas ainda assim, continuamos o “sexo frágil”. Muitas vezes não somos páreo para um homem mais forte. E quando eles resolvem “atacar” em bando? Quantos casos de assédio e estupro por um grupo de pessoas não se veem nos jornais? Temos a lei do nosso lado em muitos casos. Porém, temos uma sociedade retrógrada inteira contra a gente. Muitas mulheres não procuram ajuda e nem comentam quando sofrem uma violência como o assédio sexual por vergonha ou por medo. Muitas delegacias ainda não estão preparadas para acolher esse tipo de vítima. Em algumas, o próprio policial, que deveria ser quem ajuda, é quem atrapalha, dizendo que não pode fazer nada, que isso não é digno de um boletim de ocorrência, ou que a culpa é toda da mulher, por se vestir dessa ou daquela forma. A sociedade, que se diz tão avançada, não fica atrás: para boa parte das pessoas, uma mulher que se veste de forma sensual é porque quer provocar uma reação como um assédio sexual ou mesmo um estupro. É a mulher que é acusada de ser fácil quando se aproveitam de seu corpo e de sua honra.

Os homens que assediam uma mulher e que acham isso normal geralmente se dizem as verdadeiras vítimas: é culpa da mulher ele ter atacado, afinal, se ela não tivesse usado uma roupa que o provocava ele não teria feito aquilo. Mas com esse comentário ele se esquece de um pequeno detalhe: ele é um ser pensante – ou deveria ser. O homo sapiens sapiens é o homem que tem consciência de sua sabedoria, o único animal que tem o poder de escolher e decidir, certo? Portanto, quando essa é a desculpa para se cometer um crime contra a mulher, o homem se rebaixa a um mero animal irracional, que não tem capacidade alguma de decidir. E, sinceramente, coloco nesse grupo também as pessoas que, seguindo o senso comum, repetem como papagaios que o homem tem razão. Os instintos existem, sim; saber controla-los e tomar decisões com base neles é privilégio dos humanos. Mas usá-los como desculpa para redimir-se da culpa de um erro é pura infantilidade, digno de pessoas que não têm a menor maturidade.

É constrangedor você estar andando na rua e receber uma cantada de alguém que você nunca viu na vida. Ainda mais em tempos de violência como hoje, qualquer um é suspeito e não se pode andar totalmente tranquila por aí sem esperar o pior. A campanha Chega defiu fiu trata disso. A ideia é que as mulheres tenham um espaço livre para poderem denunciar casos de assédio verbal que sofreram. As famosas cantadas de pedreiro, sabe? Iniciativas como essa são um ótimo aliado para as mulheres.

A sociedade ainda cria a mulher para casar e ter filhos. Uma mulher que foge do padrão continua sendo mal vista aos olhos dessa gente atrasada e preconceituosa. É inadmissível uma mulher solteira morar sozinha; se não se casar, ela não tem outra opção a não ser morar com os pais. Uma mulher mal pode sair sozinha, pois isso representa, para essas pessoas, um convite para acompanha-la. “É triste uma mulher saindo sozinha”, eles pensam. “É feio”. “É indecente”.

E entre o triste, o feio e o indecente, perdemos a noção do que é de fato triste, feio e indecente. A impressão que eu tenho é que a criação das pessoas está muito errada. Alguns pais, que acharam que tiveram uma infância muito negligente, agora, com seus próprios filhos, têm a ilusão de que estão fazendo um bem a eles quando não lhes negam nada. Seu discurso é de que passaram muitas vontades em sua infância, e não querem que seus filhos passem por isso também. Mas essa negligência em ter pulso firme tem sérias consequências para o mundo. Esses filhos vão sofrer muito mais no futuro, pois se não são reprimidos na infância, vão ter atitudes hediondas quando adultos e não entenderão o motivo de um processo ou uma condenação criminal. Acostumados a poderem tudo antes, não serão capazes de entender por que não podem tudo na idade adulta. E antes era tão fácil: era só começar a gritar que tinham tudo o que queriam; no futuro eles continuarão a gritar, esmurrar e ameaçar e não vão achar certo serem condenados por isso.

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A Menina no País das Maravilhas

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Os professores veem Phoebe como uma garota problemática. A tranquila menina se enfurece com os colegas de classe que a rejeitam e sempre acaba metida em uma briga. As coisas mudam quando a nova professora de teatro, Miss Dodger, resolve apresentar a peça Alice no País das Maravilhas, dando a Phoebe um novo objetivo para sua vida. Com o passar do tempo, os problemas de relacionamento da menina pioram, enquanto sua obsessão com a peça aumenta. Sem saber como lidar com a filha, os pais da garota sofrem para descobrir o que está acontecendo com ela.

A Menina no País das Maravilhas (Phoebe in Wonderland) retrata um problema bem comum numa sociedade sempre com pressa. Não existe mais tempo para ter sensibilidade e discernir o que é manha e o que é um problema de verdade. As pessoas às vezes passam anos sofrendo com um problema para o qual não conseguem dar um nome certo, e como paliativo, o tratam por um apelido ou um senso comum qualquer. Não lidar com as coisas da forma correta desde o princípio pode ser fatal para a resolução de um impasse.

Outros problemas sociais são abordados no filme. A direção da escola e os professores habituais não têm a menor paciência para lidar com seus alunos, e dão a isso o nome de disciplina. A verdadeira educadora em toda a escola é Miss Dodger, que tem a sensibilidade e a disposição para tentar entender o que se passa com seus alunos e verdadeiramente ensinar algo a eles. A peça, para ela, não é apenas uma encenação, mas uma oportunidade de ensinar às crianças a lidarem com suas diferenças, a se respeitarem e a trabalharem em equipe.

As próprias diferenças dos alunos viram alvo de observação. Cada um com sua peculiaridade tem algo a ensinar, e os alunos se mostram muito mais abertos à compreensão e muito mais aptos ao desenvolvimento pessoal.

O conjunto de situações que se conjugam é riquíssimo. O enredo não é nada menos que tocante. As histórias se entrelaçam em um emocionante conto de fadas contemporâneo que faz um paralelo com a realidade, onde pequeninas coisas ganham proporções gigantescas ou insignificantes, dependendo dos olhos que as veem.


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Dois Coelhos

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Cansado do cenário brasileiro de corrupção e da lei do mais forte, Edgar resolve bolar um plano para acabar com tudo isso. Com uma tacada só, ele cria uma rede de acontecimentos que coloca frente a frente um político corrupto, advogados desonestos, traficantes, assaltantes e assassinos.

Dois Coelhos é recheado das mais variadas críticas à atual cultura deturpada e venerada no Brasil e no mundo de si mesmo e de interesses próprios. Como filme de ação, foi uma tentativa ousada do cinema brasileiro, mas que deu muito certo. O enredo é envolvente do começo ao fim, e as reviravoltas da história surpreendem o expectador o tempo todo.

Sem nada a perder para as mirabolantes tramas dos filmes hollywoodianos, esse filme de 2011 foi totalmente boicotado pelos cinemas brasileiros. Como muitos outros filmes, Dois Coelhos ficou tão pouco tempo em cartaz que nem deu tempo de ser conhecido. Acho que o cartaz anunciando seu futuro lançamento ficou mais tempo em exibição que o filme propriamente dito.

Diferente da maior parte dos filmes brasileiros, este não se trata de uma obra comercial com inúmeros merchandisings a cada cena. Talvez isso tenha sido um dos motivos para ele ter sido tão pouco aclamado por aqui. No elenco estão atores famosos – mas não tanto assim –, como Caco Ciocler e Alessandra Negrini.

Outra teoria para o pouco sucesso da obra por aqui é o fato de ser um filme brasileiro. Se dissessem que era um filme americano, se tivesse atores ou direção estrangeira, provavelmente seria um estouro. Infelizmente, o brasileiro em geral sofre de complexo de vira-lata: o que é do outro é sempre melhor, e o que eu tenho não presta. O brasileiro é preconceituoso consigo mesmo.

Dois Coelhos é um filme recomendadíssimo. De qualidade que não deixa nada a desejar em nada a filmes que ganharam destaque na mídia, como os famosos hollywoodianos ou a série Tropa de Elite, essa é uma excelente obra que só perde para o preconceito de seus próprios conterrâneos.



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Não Aceitamos Devoluções

segunda-feira, 15 de junho de 2015



Valentín é um bom vivant. O rapaz leva uma vida bem folgada no México, onde sobrevive de bicos e leva belas turistas para conhecer a região. Galanteador, nenhuma resiste a seus encantos. Um dia, uma de suas dezenas de ex-namoradas o surpreende em seu apartamento com uma criança, dizendo ser filha dele. Sozinho, com a bebê, Valentín se vê obrigado a tomar uma atitude. Sua primeira ideia é encontrar a mãe da menina nos Estados Unidos e devolver a criança, mas no caminho muitas coisas inusitadas acontecem que mudam completamente o rumo de sua vida.

Com sua nova situação, a vida de namorador ficou para trás. Não que Valentín reclamasse. Cuidar de Maggie era se tornou o grande objetivo de sua vida. A garota fez com que Valentín finalmente crescesse e assumisse responsabilidades. A sombra de seu próprio relacionamento conflituoso com o pai se torna a base de como lidar com sua filha. Os dois relacionamentos se tornam para Valentín uma ponto muito importante de reflexão sobre o que realmente importa na vida e como se gasta o tempo que se vive. O mundo de Valentín e Maggie vira de pernas para o ar novamente quando a mãe da menina descobre seu paradeiro, seis anos mais tarde, e aparece, dizendo que pretende levar a menina consigo.

Filme mexicano dirigido e estrelado por Eugenio Derbez, Não Aceitamos Devoluções tem um encanto próprio. Sem a pieguice comum a filmes latino-americanos, a história é contada de forma bem coerente com a realidade. As decisões com que Valentín se depara e como ele as toma tornam a história interessante e cativante, revelando uma sensibilidade que não se via no jovem Valentín, mas que aflorou de forma tocante no Valentín mais velho e responsável.

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Cartas a um Jovem Investidor – Gustavo Cerbasi

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Quantas vezes já pensamos em investimentos como um bicho de sete cabeças? Para algumas pessoas, investimentos são coisas inatingíveis; para outras, pagar um curso e trabalhar em sua formação profissional já é investimento suficiente. O fato é que pouca gente para de verdade para pensar sobre isso. São tantas coisas que envolvem investimento que às vezes fica difícil buscar informações. E o rol das coisas que se precisa conhecer para saber investir é tão amplo que qualquer um pode se sentir um pouco perdido.

A luz para guiar os passos introdutórios dessa jornada vem nas palavras de Gustavo Cerbasi. Com um texto leve e extremamente claro, em Cartas a um Jovem Investidor o educador financeiro deixa suas impressões sobre o que é investimento e o que é preciso ter em mente quando se fala no assunto ou quando se busca informações.

Para quem nunca leu nada sobre investimentos, esse é um bom ponto de partida. Em capítulos rápidos, Cerbasi explica como começar, como evoluir e como continuar colhendo frutos de seus investimentos. Além disso, o livro é um grande aliado na desmistificação dos investimentos, já que todos podem – e devem – aprender a poupar e investir, para colher bons frutos.

Autor do blog Mais Dinheiro e de outros títulos sobre finanças pessoais, Cerbasi é apaixonado pelo assunto e tem por objetivo compartilhar o que tem aprendido. Um de seus livros mais famosos, Casais InteligentesEnriquecem Juntos inspirou o filme Até que a Sorte nosSepare, com Leandro Hassum e Danielle Winits.

Respeitando-se suas próprias possibilidades e competências pessoais, é possível, sim, criar riqueza a partir de qualquer quantia que se tenha. O trabalho é importante nesse processo. A determinação e paciência são aliadas com as quais é necessário firmar uma amizade duradoura. Com tudo isso, o livro de Cerbasi mostra como é possível se livrar da escravidão que a filosofia de trabalho nos impõe hoje, aproveitar os frutos plantados sempre – e não apenas na aposentadoria – e ter uma vida plenamente feliz.

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O Que Eu Vi , O Que Nós Veremos - Santos Dumont

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Talvez a primeira imagem que venha à cabeça quando se fala em Santos Dumont seja um avião. Para os mais conhecedores do inventor brasileiro, a imagem do famoso 14-Bis é logo evocada. Pouco se sabe, no entanto, sobre sua história e as dificuldades que ele enfrentou até chegar à conclusão de seu projeto mais conhecido.

Seus estudos sobre a aeronáutica, que o levaram a inventar um aparelho que levaria o homem pelos ares, possibilitaram uma revolução inegável na vida das pessoas. O mérito de sua principal invenção é até hoje alvo de disputa com os irmãos Wright. Essa é uma questão que será discutida para sempre, e quanto a isso, não há muito o que se fazer. Mas alguns textos podem se colocar do lado de um ou de outro nessa competição.

De certa forma, é isso o que se tem em O Que Eu Vi, O Que Veremos, livro autobiográfico de Alberto Santos Dumont. Nesse relato, o inventor se estende apenas sobre o fato que pesa sobre a invenção do avião e seu processo de criação até o voo bem-sucedido do 14-Bis, em Paris, em 2906.

De forma muito pessoal e humilde, o mineiro Santos Dumont conta em seu livro como teve apoio da família no Brasil para continuar seus estudos em Paris, contando com o apoio de parentes na capital francesa. Devorador de livros e sonhador, o inventor era apaixonado pelos romances de Júlio Verne, que se tornou a grande inspiração para seus inventos.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, Santos Dumont conta como conheceu e se apaixonou pela aeronáutica, antes mesmo de a ciência ganhar esse nome. Conta também a coragem que teve que demonstrar para enfrentar tantas pessoas incrédulas em seus estudos para seguir com seus testes até finalmente conseguir um equipamento que voasse sozinho, com um motor próprio. Suas experiências deram errado dezenas de vezes, e em muitas delas ele chegou a pensar em desistir, inclusive por já ter se machucado bastante em algumas tentativas frustradas. Para a sorte do mundo, nenhuma frustração foi superior a sua vontade de realizar o que se propôs a fazer.

E não pense que os irmãos Wright foram de alguma forma oponentes para Santos Dumont; humilde, o autor fala deles em seu livro com muito respeito, reconhecendo a importância dos americanos nos avanços da aeronáutica.

A segunda parte do livro é dedicada à repercussão que sua invenção ganhou. O inventor recebeu menções de honras de vários políticos e militares da época. Para sua grande decepção, Santos Dumont viu sua invenção ter sido adaptada como uma arma de guerra. Para ele, sua invenção sempre teve o objetivo de ajudar as pessoas a se locomoverem de forma mais rápida e ágil. Anos depois, porém, sua tranquilidade foi trazida de volta por uma carta recebida de um militar, dizendo-lhe que os aviões também estavam sendo usados para coisas boas, e não apenas para a guerra.

O livro é um excelente exemplo de empreendedorismo, garra, determinação e de como sonhos podem ser realizados. E em um mundo bagunçado, com valores distorcidos, em que a mídia escolhe a dedo quem melhor representa a diferença, essa autobiografia é uma ótima evidência de que o Brasil também produz heróis e pessoas que mudam o mundo a partir de seus sonhos.

Dica: o livro está atualmente em domínio público e pode ser baixado gratuitamente em PDF no próprio site do Domínio Público brasileiro, na Amazon, para os adeptos de Kindle, e na Google Play Store, para os fãs de Android.


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Ser social – mas tem um limite

sábado, 30 de maio de 2015

As pessoas gostam de conversar. É a natureza humana: ser social, compartilhar com o outro. Mas basta tocar em um assunto delicado e duas são as possibilidades: ou a conversa vira briga, ou a conversa termina.

Conversar é saudável. Expor seus pensamentos alivia a tensão, é ótimo para combater sintomas da depressão. Uma simples conversa pode aproximar as pessoas e ser a forma mais fácil de se conhecer uns aos outros.

Por outro lado, há quem não goste de conversar. Tem gente que só conversa consigo mesmo. E tem gente que nem consigo mesmo tolera uma boa conversa. Essas são aquelas pessoas que preferem guardar para si quando são contrariadas, magoadas ou chateadas de alguma forma.

Há quem acredite que guardar sentimentos ruins, sem colocá-los para fora em forma de uma conversa sincera, pode causar problemas para a pessoa, inclusive no âmbito da saúde. A já falada depressão é apenas uma delas; pode-se observar também sintomas de estresse, abatimento, cansaço, desânimo... Um sem fim de sintomas que varia de pessoa para pessoa, de um sistema imunológico para o outro, de estrutura psicológica para o outra.

Boa parte dos problemas poderia ser resolvida em uma conversa franca – desde que houvesse paciência suficiente para isso – e bolas de neve potencialmente gigantes poderiam ser impedidas dessa forma. Dizer o que o outro pode ter feito que machucou – e veja bem: eu digo dizer e, definitivamente, não apontar erros, defeitos, etc. – daria ao outro a oportunidade de se justificar. Ou de pelo menos entender o que está acontecendo. Muitas vezes nem sabemos porque estão chateados com a gente, porque a nossa capacidade de dedução também tem um limite. Nem sempre é o caso de termos feito algo errado. Às vezes foi simplesmente um ato mal compreendido. O mal entendido se desfaz ao se esmiuçar o problema em uma conversa.

Mas se é tão simples assim, porque as pessoas têm tanto medo de conversar sobre seus relacionamentos e os problemas que existem com eles. Com o passar dos anos as pessoas têm ficado mais egoístas. Ninguém aceita críticas porque, no fundo (mesmo que não admita), se acha perfeito, incapaz de errar. A geração de mimados em que vivemos não sabe lidar com a crítica, tampouco tem capacidade psicológica de assumir seus erros. A consequência é óbvia: alguém que não é capaz de assumir seus erros dificilmente consegue se colocar no lugar do outro.

Enfrentar uma conversa franca com alguém pode levantar uma série de defeitos que ela possa ter e dos quais tem se esforçado tanto para fugir. Conhecer a si mesmo não é algo trivial, que qualquer um faz. Esse, na verdade, é um exercício digno apenas dos fortes. Descobrir-se na verdade como um ser frágil, vulnerável e passível de erros (muitos erros) é uma realidade muito dura para a maioria das pessoas. De fato, não é para qualquer um, mas é um exercício essencial para se viver em sociedade.

Num mundo de tagarelas e surdos, ouvir é divino. Tão divino que ninguém se acha a altura. Ouvir é difícil. Exige paciência e empatia. Exige, mais ainda, a capacidade de não fazer julgamentos precoces. Ouvir sem rotular o orador antes de ouvir a história inteira é habilidade raríssima por sua dificuldade. E sem o hábito de ouvir, a habilidade vai se perdendo, até que um dia, fatalmente, se findará.

Então é tudo uma questão de falta de coragem? Talvez. Mas não só isso. É uma falta conjunta de várias coisas, entre elas, o caráter e a empatia. Num mundo em que se tem tanto para falar, cheio de “razões” e “direitos”, sobra pouco espaço para ouvir. E daí, talvez se entenda que a falta maior reside na boa vontade.


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A força que sustenta a Teoria de Tudo

segunda-feira, 30 de março de 2015

Vencedor do Óscar de 2015, “A Teoria de Tudo” mais que mereceu o prêmio. A belíssima obra cinematográfica leva para as telonas a biografia do grande físico britânico Stephen Hawking, nas palavras de sua primeira esposa, Jane Hawking.

A história começa a ser retratada quando o físico conhece sua primeira esposa, em uma festa da faculdade. Um típico nerd, sem a menor expectativa de sucesso num relacionamento com a garota bonita de um grupo de estudantes populares, surpreendentemente conquista seu coração. E apaixonada e dedicada como sua personalidade lhe cabia, Jane nunca desistiu de Stephen, mesmo diante de uma previsão de futuro tão caótico como o que estaria por vir. Com a sentença que o físico recebeu ainda jovem, ao descobrir sua esclerose lateral amiotrófica, nem sua família parecia estar preparado para enfrentar o problema ao seu lado. Até o próprio Stephen já havia desistido de si mesmo, mas Jane intercedeu por ele, e lhe deu a coragem necessária para seguir em frente.

O diagnóstico, que deu a ele apenas mais dois anos de vida, se provou erradíssimo, para o bem do mundo. Stephen Hawking luta até hoje com sua condição para poder continuar fazendo o que lhe dá tanto prazer: desvendando o cosmos. Porém, talvez ele não tivesse chegado tão longe se não fosse sua primeira esposa, e também a segunda depois de Jane, em seu momento. Stephen Hawking é um cientista brilhante, e um ser humano dotado de muito bom humor e desprendimento – mais, ainda assim, é um ser humano como outro qualquer, com medos e vícios que o fazem enxergar o pior lado da coisa. As mulheres da vida do físico foram as estrelas que brilharam para ele por toda a sua vida para não deixar que ele próprio se apagasse. Portanto, viva essas mulheres.


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Inversões de sentidos

quarta-feira, 25 de março de 2015

As modas mudam com o tempo. O que servia em uma determinada época passa a ser cafona alguns anos mais tarde. Cores que antes se usavam muito, hoje podem acabar escondidas no fundo do guarda-roupa, acumulando pó. É assim com todas as coisas.

Algo parecido acontece com os costumes. Alguém pode dizer que os bons costumes nunca saem de moda. Mas mesmo acreditando-se nisso está cada vez mais difícil ver a reprodução dos ditos bons costumes. E a razão para isso em boa parte está nos muitos “ismos” que se tem cultivado como filosofia de vida, como o feminismo, o egoísmo, e tantos outros.

Houve uma época em que os livros moldavam o comportamento de uma sociedade. Tão perigosos eram que chegaram a ser proibidos, especialmente por ditaduras covardes com medo de serem derrubadas com certa facilidade. Os anos e a evolução das tecnologias trouxe outra forma de informação e cultura, que deveria ter apenas se aliado aos primeiros, mas aos poucos os têm substituídos: a televisão.

Aqui também encontramos dois grupos ferrenhos: os que juram que a TV manipula o pensamento comum e os que juram que jamais seriam controlados por essa máquina e seu conteúdo, pois ela é inofensiva. Ora, num mundo que não lê, é difícil adquirir-se a habilidade de senso crítico. Aí fica difícil mesmo se desvencilhar das garras manipuladoras da televisão.

Muitos dispositivos no mundo foram criados com uma intenção e acabaram tendo seu objetivo desvirtuado. A pólvora é um bom exemplo disso: criada inicialmente para colorir festivais orientais com os tradicionais fogos de artifício, alguém um dia viu naquilo uma grande arma em potencial. Estudos dos átomos, em prol de causas nobres da ciência, se tornaram a temida bomba atômica.

Criada para entreter e levar informação de forma mais ágil às pessoas, a televisão se tornou parâmetro para modelo de comportamentos. Muito se aprendeu com o que a ela transmitia. As informações chegavam mais rápido, e também as tendências. O que acontecia na televisão passou a virar o molde para se reproduzir na vida real. As mulheres queriam os mesmos cortes de cabelo, as mesmas roupas; os homens se sentiam mais másculos com um cigarro, um copo de bebida na mão.

Mais uma vez, nem tudo nesse parâmetro é ruim. De uns anos para cá, a televisão tem sido usada como ferramenta contra discriminação e preconceito. Várias obras televisivas já trataram de temas delicados e tabus, como doenças sexualmente transmissíveis, drogas, gravidez na adolescência, uso de preservativos, prevenção de doenças, homossexualidade, etc. Exemplos é o que não falta. Quando se aborta esse tipo de assunto eles tendem a se tornar algo natural no dia a dia das pessoas, e aos poucos acabam sendo introduzidos às suas rotinas, de forma natural.

A mesma naturalidade, porém, tem sido aplicada coisas que fogem ao discernimento do que é certo ou errado. É de assustar a quantidade de novelas e filmes que tratam comportamentos desvirtuados, como traição, roubo e competição acirrada valendo tudo – até trapaça – com a maior naturalidade. Na maioria das vezes esses comportamentos acabam punidos no último capítulo, mas até então, o desonesto só tem a desfrutar. É como se estivessem reforçando a legitimidade da falta de caráter em prol de si mesmo, incentivando-a – porque, afinal, é só você mesmo que importa, e ninguém mais. A lição que se passa é a de que você não deve medir forças para ser feliz, mesmo que afete alguém, e as pessoas devem te reverenciar por sua felicidade. Você, no entanto, jamais deve ficar feliz pela felicidade dos outros, porque isso é coisa de gente simplória, ingênua.

Mais chocante do que isso é ouvir de conhecidos defesas fervorosas a esse tipo de atitude. Isso é prova de que a mensagem desvirtuada tem sido passada com sucesso e aos poucos está sendo incutida no comportamento das pessoas, como se fosse de fato o ideal. As pessoas não estão sabendo diferenciar.


Como todo equipamento, a televisão também tem várias utilidades, e isso é excelente. Basta descobrir agora como usá-la mais para bons fins para melhorar o mundo – e não piorá-lo.

Trecho do filme "Perfume de Mulher" (1992)

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Sérgio Y. Vai à América

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Felicidade é um conceito abstrato dos mais difíceis de ser definido. Se a felicidade pode estar no convívio com a família para uns, pode morar em uma grande riqueza para os outros. Sérgio Y. tem os dois e mesmo assim não consegue se considerar uma pessoa feliz.

Um grande psiquiatra com anos de carreira de carreira e uma experiência invejável poderia muito bem se aposentar e curtir a vida, mas apaixonado pela profissão, prefere seguir consultando e não abandonar seus pacientes. O único luxo ao que se dá é o de diminuir o número de pacientes e escolher qual caso quer ou não estudar. Um dia, porém, a pedido de uma amiga, resolve acolher em seu consultório o jovem Sérgio Y., que inicialmente parecia um adolescente como outro qualquer, mas que o intrigava por algum motivo que ele não conseguia descobrir. Filho de um grande empresário e estudante de um dos melhores colégios da cidade, sem problemas de relacionamentos, cercado por amigos, Sérgio não tinha nada que o fizesse infeliz. Mas não conseguia enxergar a felicidade em sua vida. Era como se algo lhe faltasse. Em sua última consulta com o psiquiatra, Sérgio se despede, agradecendo tudo que o médico havia feito por ele e informando de uma viagem de férias que faria com a família. Feliz por seu paciente, o psiquiatra lhe sugere alguns pontos turísticos para visitar e lhe deseja boa viagem.

Sérgio nunca mais apareceu. Ainda assim, continuou a intrigar o psiquiatra. Ele nunca em sua vida tinha deixado um caso sem resolução, e aquele paciente tinha se tornado o primeiro. Ainda incomodado com essa história, o médico resolve ir atrás da família de Sérgio para descobrir como ele estava, e para sua surpresa, descobre que seu antigo paciente estava morto.

É nessa busca por autoconhecimento e estudo de caso que decorre o livro de Alexandre Vidal Porto, de São Paulo. Em linguagem simples, e com uma sensibilidade única, o autor traduz em palavras as complicadas minúcias da vida e toca em temas até hoje polêmicos (ainda que velados). São idas e vindas de personagens totalmente desconhecidas e desconexas que por pura força do destino acabam tendo seus caminhos cruzados para que um tenha a oportunidade de ensinar algo ao outro.

Se é que o livro traz uma lição (dentre tantas que se pode tirar dele), é que é preciso estar sempre de mente aberta. Só uma mente aberta é capaz de captar essas mensagens preliminares que estão no ar o tempo todo e que nos fazem nos defrontarmos com questões que merecem uma reflexão. Mensagens assim estão sempre por aí, mas chegam até nós apenas quando precisamos delas, e só com mente verdadeiramente aberta podemos captá-las


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Se não tem solução a gente inventa

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O ser humano é um ser insaciável por natureza. Tudo para ele pode ser melhorado. Já percebeu como a sociedade cria soluções para problemas que ela mesma criou?

A agenda é um bom exemplo disso. As pessoas sempre tiveram o que fazer, mas com o tempo a quantidade de atividades aumentou tanto, mas tanto, quem ninguém em sã consciência tem uma memória boa o suficiente para tanta coisa. Aí surgiu a necessidade de algo que desse uma forcinha, e assim nasceu a agenda. E como a agenda uma hora também se tornou um tanto obsoleta para essa tarefa, outras técnicas foram criadas, como amarrar um lacinho no dedo, espalhar post-its por todos os cantos, como se fossem papel de parede particionado, e listas e mais listas de coisas a se fazer. O que são as promessas de Ano Novo se não mais uma lista de coisas que precisam ser feitas?

A tecnologia também criou outros problemas que precisavam de solução. Talvez a mais engenhosa delas tenha sido a sincronização. Lembra da época dos disquetes, em que os backups tinham que ser copiados manualmente de um para o outro? E às vezes precisávamos de pilhas inteiras de disquetes para dar conta de tanto arquivo. Depois vieram os CDs e HDs externos, mas o quesito praticidade ainda não estava resolvido. Hoje, no entanto, os aplicativos podem sincronizar automaticamente o tempo todo tudo o que você faz com uma coisinha chamada nuvem, assim você nunca perde suas coisas. Se você for assaltado, por exemplo, e roubarem seu celular, não tema! Suas fotos estarão seguramente salvas em uma nuvem qualquer e podem ser acessadas a qualquer momento de um outro dispositivo eletrônico qualquer.

Existem aí muitos outros exemplos que podem ser citados: os vírus de computador e programas para proteger os aparelhos desse e de outros males; os remédios, que curam doenças para o estresse do dia a dia, criado pela humanidade; coisas compactas e retráteis para se ajustarem à falta de espaço de um planeta cada vez mais abarrotado. Exemplos não faltam, e nunca deixarão de existir. Se o homem é criativo na hora de resolver problemas, também é excelente na arte de criá-los.


Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. Anos de desenvolvimento humano provam que isso não poderia ser menos do que verdade. Sempre que surge um problema, mesmo que o próprio ser humano é quem o tenha criado, em outro ponto haverá outro ser humano empenhado em descobrir uma solução para ele. Portanto, enquanto a nossa espécie continuar sendo um ser pensante e criativo, estamos a salvo!


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Sobre Pensamentos Avulsos...

Pensamentos Avulsos são divagações e outras bobagens que saem da cabeça insana dessa que vos escreve. Espaço livre para meu bel prazer de escrever e expor de alguma forma minhas idéias. Como blogueira, eu gosto de comentários; como escritora, eu preciso de críticas. Ambos me servem como uma espécie de termômetro de qualidade para a minha produção. Portanto, por gentileza, colabore. :-)

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