Entre a banalidade e a agressão
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Segundo o dicionário, assédio é
“a insistência em se aproximar de alguém”.
Segundo o artigo 216-A da Lei nº 10.224, assédio sexual é “constranger alguém
com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o
agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função. A pena para esse crime é 1 a 2 anos de
prisão.
O uso de força para essa ação
pode-se considerar uma espécie de hierarquia: o mais forte tem poder sobre o
mais fraco. No ambiente de trabalho ou acadêmico, um chefe ou professor exercem
poder.
No caso da mulher, o assédio
sexual é uma questão mais complicada. A passos de formiga conseguimos algum
reconhecimento da lei, com avanços importantíssimos como a lei Maria da Penha.
Mas ainda assim, continuamos o “sexo frágil”. Muitas vezes não somos páreo para
um homem mais forte. E quando eles resolvem “atacar” em bando? Quantos casos de
assédio e estupro por um grupo de pessoas não se veem nos jornais? Temos a lei
do nosso lado em muitos casos. Porém, temos uma sociedade retrógrada inteira
contra a gente. Muitas mulheres não procuram ajuda e nem comentam quando sofrem
uma violência como o assédio sexual por vergonha ou por medo. Muitas delegacias
ainda não estão preparadas para acolher esse tipo de vítima. Em algumas, o
próprio policial, que deveria ser quem ajuda, é quem atrapalha, dizendo que não
pode fazer nada, que isso não é digno de um boletim de ocorrência, ou que a
culpa é toda da mulher, por se vestir dessa ou daquela forma. A sociedade, que
se diz tão avançada, não fica atrás: para boa parte das pessoas, uma mulher que
se veste de forma sensual é porque quer provocar uma reação como um assédio
sexual ou mesmo um estupro. É a mulher que é acusada de ser fácil quando se
aproveitam de seu corpo e de sua honra.
Os homens que assediam uma mulher
e que acham isso normal geralmente se dizem as verdadeiras vítimas: é culpa da
mulher ele ter atacado, afinal, se ela não tivesse usado uma roupa que o
provocava ele não teria feito aquilo. Mas com esse comentário ele se esquece de
um pequeno detalhe: ele é um ser pensante – ou deveria ser. O homo sapiens sapiens é o homem que tem
consciência de sua sabedoria, o único animal que tem o poder de escolher e
decidir, certo? Portanto, quando essa é a desculpa para se cometer um crime
contra a mulher, o homem se rebaixa a um mero animal irracional, que não tem
capacidade alguma de decidir. E, sinceramente, coloco nesse grupo também as
pessoas que, seguindo o senso comum, repetem como papagaios que o homem tem
razão. Os instintos existem, sim; saber controla-los e tomar decisões com base
neles é privilégio dos humanos. Mas usá-los como desculpa para redimir-se da
culpa de um erro é pura infantilidade, digno de pessoas que não têm a menor
maturidade.
É constrangedor você estar
andando na rua e receber uma cantada de alguém que você nunca viu na vida.
Ainda mais em tempos de violência como hoje, qualquer um é suspeito e não se
pode andar totalmente tranquila por aí sem esperar o pior. A campanha Chega defiu fiu trata disso. A ideia é que as mulheres
tenham um espaço livre para poderem denunciar casos de assédio verbal que
sofreram. As famosas cantadas de pedreiro, sabe? Iniciativas como essa são um
ótimo aliado para as mulheres.
A sociedade ainda cria a mulher
para casar e ter filhos. Uma mulher que foge do padrão continua sendo mal vista
aos olhos dessa gente atrasada e preconceituosa. É inadmissível uma mulher
solteira morar sozinha; se não se casar, ela não tem outra opção a não ser
morar com os pais. Uma mulher mal pode sair sozinha, pois isso representa, para
essas pessoas, um convite para acompanha-la. “É triste uma mulher saindo
sozinha”, eles pensam. “É feio”. “É indecente”.
E entre o triste, o feio e o indecente, perdemos a noção do que é de fato triste, feio e indecente. A impressão que eu tenho é que a criação das pessoas está muito errada. Alguns pais, que acharam que tiveram uma infância muito negligente, agora, com seus próprios filhos, têm a ilusão de que estão fazendo um bem a eles quando não lhes negam nada. Seu discurso é de que passaram muitas vontades em sua infância, e não querem que seus filhos passem por isso também. Mas essa negligência em ter pulso firme tem sérias consequências para o mundo. Esses filhos vão sofrer muito mais no futuro, pois se não são reprimidos na infância, vão ter atitudes hediondas quando adultos e não entenderão o motivo de um processo ou uma condenação criminal. Acostumados a poderem tudo antes, não serão capazes de entender por que não podem tudo na idade adulta. E antes era tão fácil: era só começar a gritar que tinham tudo o que queriam; no futuro eles continuarão a gritar, esmurrar e ameaçar e não vão achar certo serem condenados por isso.
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