O Corcunda de Notre Dame

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Não é possível ler duas vezes o mesmo livro ou assistir ao mesmo filme. Isso porque, na segunda vez que você fizer isso, verá a obra a partir de outro ponto de vista. Numa segunda leitura você já saberá de algumas informações e terá outras a acrescentar. São várias as coisas que tornam as obras únicas a cada vez que as apreciamos.

A última vez que assisti ao filme O Corcunda de Notre Dame, da Disney, eu ainda era criança. Acho linda a história de Quasímodo e Esmeralda. Sem querer descobri que Quasímodo significa “feito pela metade”, um nome criativo inventado pelo autor da obra original, Notre-Dame de Paris, Victor Hugo.

Vendo o filme novamente agora, depois de certa idade, pude perceber outras coisas. A história vai muito além de um musical romântico para crianças. Ele traz questões que na verdade são profundas demais para a cabeça de uma criança.

Quasímodo é criado por Frollo, ministro da justiça que enfatiza a todo o momento a sorte que o corcunda tem de ter um destino tão cômodo. E para manter esse conforto todo, a única coisa que ele deve fazer é se ocultar do mundo e obedecer às ordens de seu mestre. Em nenhum momento Frollo se permite ser chamado de pai, apesar de ter criado Quasímodo desde a infância. Em outras palavras, enquanto soubesse controlar sua curiosidade e obedecesse à risca as regras que lhe foram impostas, Quasímodo tinha permissão para viver em paz no seu cantinho.

A bela Esmeralda é uma personagem riquíssima na obra. Mulher independente que vai à luta pela sua sobrevivência, também é audaciosa e defende com furor seus ideais. Esmeralda representa a diversidade, as minorias: como cigana, ela é perseguida como uma criminosa, mas se indigna com a discriminação sem motivo algum. Ela acredita ser possível que todos convivam muito bem, independente de quem sejam ou do que fazem ou acreditam. Somado a isso tudo está sua beleza estrondosa: Esmeralda é dona de uma beleza marcante e nem um pouco discreta que não pode evitar atrair a atenção de todos.

Além de ser o vilão da história, Frollo, acaba revelando outro viés de sua personagem. Entre a cruz e a espada, entre a política e a religião, que têm poder quase equivalente na França renascentista, o ministro da justiça tem que dar o exemplo de correção de conduta e austeridade. Porém, ao conhecer Esmeralda, suas crenças são colocadas à prova. Claramente ele quer a cabeça da cigana, para fazer cumprir a lei, mas também a deseja com luxúria. Arrogante em seu patamar de poder, ele dá ainda a chance de Esmeralda escolher: uma vida de servidão sexual a ele ou a morte. Ele seria a única chance de sobrevivência da cigana, mas, novamente, apenas se ela ficasse sob seu comando, submissa e sem questionamentos.

O francês Victor Hugo dedicou suas obras à critica dos problemas sociais de seu país, especialmente os que dizem respeito às diferenças de classe. Ele comprou verdadeiramente a causa e escreveu várias obras sobre o assunto, as mais famosas, Os Miseráveis e o próprio Notre-Dame de Paris.

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