Ensaio sobre a chatice

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Eu sou uma chata. Sou um pé no saco, um completo porre. E sou tudo isso por um simples motivo: eu gosto de conversar. Acredito piamente que uma boa conversa pode resolver (quase) todos os problemas. Na minha humilde opinião, uma simples conversa poderia evitar (e ter evitado) muitos conflitos de todas as proporções.

Só que a partir da minha geração ninguém mais parece gostar de fazer isso. Aliás, se você quer afastar alguém, diga que quer conversar. Sempre funciona. Essa nova geração de gente que “está sempre certa” não aprendeu a dialogar. A única coisa que eles aprenderam foi deixar para lá, ignorar ou fugir dos problemas. Eles “deixam a poeira baixar” antes de retomar uma relação (quando retomam), sem pedir desculpas, sem pensar na situação como um todo e, principalmente, sem se colocar no lugar do outro. Para conversar com essa gente, nas cada vez mais raras ocasiões em que isso é possível, só por mensagem de texto. Telefone? Jamais. Ninguém mais fala ao telefone. Pessoalmente, então? Muito menos; exige muito mais bravura – e essa geração carece disso em doses cavalares.

Vivemos a era da pressa, do agora ou nunca. Os meios se substituem numa tentativa de evolução. Hoje aplicativos fazem as vezes de antigos sites, como Amigos Virtuais, Par Perfeito, e “n” outras opções de sites de relacionamento. Mas ninguém está interessado em conhecer outras pessoas mais a fundo. Mais uma vez, o problema da bravura: a coragem de verdadeiramente conhecer outras pessoas parece ter se extinguido. E conhecer melhor alguém exige uma boa dose de coragem. É como se a pessoa não fosse capaz de lidar com seus próprios defeitos e projetasse no outro a expectativa surreal de aceita-los, sem recíproca. Relacionamentos são vias de mão dupla, mas essa geração é egoísta demais para entender isso – e tendem a achar isso errado. Até quem deixa bem claro em seus perfis que têm a intenção de conversar e conhecer melhor o outro falha em fazer isso na prática. Aí a máscara cai e percebe-se quem realmente disse o que queria e quem simplesmente copiou palavras bonitas de outro lugar.

Eu confesso aqui que já usei esses sites para conhecer pessoas. Porque, para mim, não tem como você ir para um site desses esperando 100% um relacionamento amoroso. Para essas coisas darem certo, você tem que ir de mente aberta, porque pode ser que na prática não funcione o relacionamento com o outro, e não é culpa de ninguém. (Relacionamentos “ao vivo” com frequência não dão certo; por que algo nascido do virtual tem que ter essa obrigação?) Então por que não aproveitar a oportunidade de ter conhecido alguém novo, fora do seu círculo comum de convívio? E posso dizer que, assim, despretensiosamente, conheci grandes amigos dessa forma. E depois de tantos anos ainda somos amigos. E com alguns foi justamente o fato de nos darmos o tempo certo de nos conhecermos melhor é que fez com que nos apaixonássemos ou não. Porque deu certo. E se não desse, tudo bem; eu já estaria extremamente feliz por ter conhecido essas pessoas incríveis que eles são. Azar de quem não teve essa perspicácia.


Por essas e outras eu volto assumir aqui: por isso sou uma chata de galochas. Um pé no saco. Um completo porre. Mas não acho que eu esteja errada. Nem que isso seja de fato um defeito. E nesse ponto eu não vou mudar tão fácil.




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