Inversões de sentidos
quarta-feira, 25 de março de 2015
As modas mudam com o tempo. O que
servia em uma determinada época passa a ser cafona alguns anos mais tarde.
Cores que antes se usavam muito, hoje podem acabar escondidas no fundo do
guarda-roupa, acumulando pó. É assim com todas as coisas.
Algo parecido acontece com os
costumes. Alguém pode dizer que os bons costumes nunca saem de moda. Mas mesmo
acreditando-se nisso está cada vez mais difícil ver a reprodução dos ditos bons
costumes. E a razão para isso em boa parte está nos muitos “ismos” que se tem
cultivado como filosofia de vida, como o feminismo, o egoísmo, e tantos outros.
Houve uma época em que os livros
moldavam o comportamento de uma sociedade. Tão perigosos eram que chegaram a
ser proibidos, especialmente por ditaduras covardes com medo de serem
derrubadas com certa facilidade. Os anos e a evolução das tecnologias trouxe
outra forma de informação e cultura, que deveria ter apenas se aliado aos
primeiros, mas aos poucos os têm substituídos: a televisão.
Aqui também encontramos dois
grupos ferrenhos: os que juram que a TV manipula o pensamento comum e os que
juram que jamais seriam controlados por essa máquina e seu conteúdo, pois ela é
inofensiva. Ora, num mundo que não lê, é difícil adquirir-se a habilidade de
senso crítico. Aí fica difícil mesmo se desvencilhar das garras manipuladoras
da televisão.
Muitos dispositivos no mundo
foram criados com uma intenção e acabaram tendo seu objetivo desvirtuado. A
pólvora é um bom exemplo disso: criada inicialmente para colorir festivais
orientais com os tradicionais fogos de artifício, alguém um dia viu naquilo uma
grande arma em potencial. Estudos dos átomos, em prol de causas nobres da
ciência, se tornaram a temida bomba atômica.
Criada para entreter e levar
informação de forma mais ágil às pessoas, a televisão se tornou parâmetro para
modelo de comportamentos. Muito se aprendeu com o que a ela transmitia. As informações
chegavam mais rápido, e também as tendências. O que acontecia na televisão
passou a virar o molde para se reproduzir na vida real. As mulheres queriam os
mesmos cortes de cabelo, as mesmas roupas; os homens se sentiam mais másculos
com um cigarro, um copo de bebida na mão.
Mais uma vez, nem tudo nesse
parâmetro é ruim. De uns anos para cá, a televisão tem sido usada como
ferramenta contra discriminação e preconceito. Várias obras televisivas já
trataram de temas delicados e tabus, como doenças sexualmente transmissíveis,
drogas, gravidez na adolescência, uso de preservativos, prevenção de doenças,
homossexualidade, etc. Exemplos é o que não falta. Quando se aborta esse tipo
de assunto eles tendem a se tornar algo natural no dia a dia das pessoas, e aos
poucos acabam sendo introduzidos às suas rotinas, de forma natural.
A mesma naturalidade, porém, tem
sido aplicada coisas que fogem ao discernimento do que é certo ou errado. É de
assustar a quantidade de novelas e filmes que tratam comportamentos
desvirtuados, como traição, roubo e competição acirrada valendo tudo – até
trapaça – com a maior naturalidade. Na maioria das vezes esses comportamentos
acabam punidos no último capítulo, mas até então, o desonesto só tem a
desfrutar. É como se estivessem reforçando a legitimidade da falta de caráter
em prol de si mesmo, incentivando-a – porque, afinal, é só você mesmo que
importa, e ninguém mais. A lição que se passa é a de que você não deve medir forças
para ser feliz, mesmo que afete alguém, e as pessoas devem te reverenciar por
sua felicidade. Você, no entanto, jamais deve ficar feliz pela felicidade dos
outros, porque isso é coisa de gente simplória, ingênua.
Mais chocante do que isso é ouvir
de conhecidos defesas fervorosas a esse tipo de atitude. Isso é prova de que a
mensagem desvirtuada tem sido passada com sucesso e aos poucos está sendo
incutida no comportamento das pessoas, como se fosse de fato o ideal. As pessoas
não estão sabendo diferenciar.
Como todo equipamento, a televisão
também tem várias utilidades, e isso é excelente. Basta descobrir agora como
usá-la mais para bons fins para melhorar o mundo – e não piorá-lo.
Trecho do filme "Perfume de Mulher" (1992)
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