Ser social – mas tem um limite
sábado, 30 de maio de 2015
As pessoas gostam de conversar. É
a natureza humana: ser social, compartilhar com o outro. Mas basta tocar em um
assunto delicado e duas são as possibilidades: ou a conversa vira briga, ou a
conversa termina.
Conversar é saudável. Expor seus
pensamentos alivia a tensão, é ótimo para combater sintomas da depressão. Uma
simples conversa pode aproximar as pessoas e ser a forma mais fácil de se
conhecer uns aos outros.
Por outro lado, há quem não goste
de conversar. Tem gente que só conversa consigo mesmo. E tem gente que nem
consigo mesmo tolera uma boa conversa. Essas são aquelas pessoas que preferem
guardar para si quando são contrariadas, magoadas ou chateadas de alguma forma.
Há quem acredite que guardar
sentimentos ruins, sem colocá-los para fora em forma de uma conversa sincera,
pode causar problemas para a pessoa, inclusive no âmbito da saúde. A já falada
depressão é apenas uma delas; pode-se observar também sintomas de estresse,
abatimento, cansaço, desânimo... Um sem fim de sintomas que varia de pessoa
para pessoa, de um sistema imunológico para o outro, de estrutura psicológica
para o outra.
Boa parte dos problemas poderia
ser resolvida em uma conversa franca – desde que houvesse paciência suficiente
para isso – e bolas de neve potencialmente gigantes poderiam ser impedidas
dessa forma. Dizer o que o outro pode ter feito que machucou – e veja bem: eu
digo dizer e, definitivamente, não apontar erros, defeitos, etc. – daria ao
outro a oportunidade de se justificar. Ou de pelo menos entender o que está
acontecendo. Muitas vezes nem sabemos porque estão chateados com a gente, porque
a nossa capacidade de dedução também tem um limite. Nem sempre é o caso de
termos feito algo errado. Às vezes foi simplesmente um ato mal compreendido. O
mal entendido se desfaz ao se esmiuçar o problema em uma conversa.
Mas se é tão simples assim, porque
as pessoas têm tanto medo de conversar sobre seus relacionamentos e os
problemas que existem com eles. Com o passar dos anos as pessoas têm ficado
mais egoístas. Ninguém aceita críticas porque, no fundo (mesmo que não admita),
se acha perfeito, incapaz de errar. A geração de mimados em que vivemos não
sabe lidar com a crítica, tampouco tem capacidade psicológica de assumir seus
erros. A consequência é óbvia: alguém que não é capaz de assumir seus erros
dificilmente consegue se colocar no lugar do outro.
Enfrentar uma conversa franca com
alguém pode levantar uma série de defeitos que ela possa ter e dos quais tem se
esforçado tanto para fugir. Conhecer a si mesmo não é algo trivial, que
qualquer um faz. Esse, na verdade, é um exercício digno apenas dos fortes. Descobrir-se
na verdade como um ser frágil, vulnerável e passível de erros (muitos erros) é
uma realidade muito dura para a maioria das pessoas. De fato, não é para qualquer
um, mas é um exercício essencial para se viver em sociedade.
Num mundo de tagarelas e surdos,
ouvir é divino. Tão divino que ninguém se acha a altura. Ouvir é difícil. Exige
paciência e empatia. Exige, mais ainda, a capacidade de não fazer julgamentos
precoces. Ouvir sem rotular o orador antes de ouvir a história inteira é
habilidade raríssima por sua dificuldade. E sem o hábito de ouvir, a habilidade
vai se perdendo, até que um dia, fatalmente, se findará.
Então é tudo uma
questão de falta de coragem? Talvez. Mas não só isso. É uma falta conjunta de
várias coisas, entre elas, o caráter e a empatia. Num mundo em que se tem tanto
para falar, cheio de “razões” e “direitos”, sobra pouco espaço para ouvir. E
daí, talvez se entenda que a falta maior reside na boa vontade.
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