Quando chegamos ao fundo do poço

sábado, 24 de outubro de 2009


Quando ouço uma música, raramente faço isso “passivamente”, simplesmente ouvindo a mistura de sons e palavras. Normalmente eu escuto música. Tá aí mais duas palavras que sofrem grande preconceito, e que acabam frequentemente sendo confundidas: ouvir é a ação realizada pelo sentido da audição; escutar, que tem uma sutil diferença do outro verbo, consiste em ouvir para captar o que se ouve, com atenção.

Mas enfim, continuando. Esses dias eu estava ouvindo a música Rise Above This, da banda americana Seether. O que me chamou a atenção nela é seu assunto: é praticamente uma campanha antisuicídio. Aí comecei a notar como esse assunto é recorrente nas músicas. Segue uma pequena lista que eu fiz:

- Seether - Rise Above This
- Good Charlote - Hold On
- CPM 22 - Atordoado
- Oasis - Little by Little
- Linkin Park - Given Up
- Linkin Park - Shadow of the Day

E claro que essas não são as únicas; essas são algumas que eu andei ouvindo e reparando (se alguém souber de alguma mais, favor me contar, para enriquecimento do acervo da minha pesquisa). Note que nessa lista tem de tudo: norte-americanos, britânicos e brasileiros (inclusive nós, que temos a fama de ser o povo mais alegre do mundo). A única música que eu conhecia antes sobre esse assunto era a do Good Charlote, mas esse tema parece estar se tornando um pouco mais popular e menos tabu. Não sei quanto a você, mas isso me parece intrigante.

As estatísticas levantadas pela Organização Mundial de Saúde mostram que em média 3000 pessoas comentem suicídio por dia (dia!!!) – mais ou menos 1 a cada 30 segundos. Ou seja: se você levar 5 minutos para ler esse post, 10 pessoas se mataram nesse meio tempo.

Mas o que leva uma pessoa a querer se matar? Aposto que a primeira palavra que vem à cabeça é depressão, né? Pode ser. Com certeza a depressão leva a pessoa a ver o mundo como o pior lugar para se viver, e nos tira toda a vontade de querer lutar um pouco mais para viver bem. Mas não é só isso. A cultura é algo que influencia bastante – haja vista japoneses e norte-americanos lidarem tão mal com a derrota e cometerem suicídios coletivos quando não passam numa prova de vestibular ou perdem o emprego; nesse caso não havia depressão, mas uma cultura (idiota, na minha opinião, mas enfim...) rígida demais que não enxerga outra opção a não ser vencer.

O suicídio, de uma forma geral, é visto como uma fuga. Digo de forma geral porque estou tentando pensar nos dois lados da moeda: o lado do suicida e o lado de quem ficou vivo. O suicida provavelmente achou que não tinha outro jeito, e “fugiu”; o vivo, se não ficou com pena do sofrimento do coitado do suicida, acha que ele era um covarde e que podia ter tentado mais um pouco.

Eu fico com o time do segundo caso. Além de covarde, o suicida é um egoísta. Será que ele chegou a parar para pensar no sofrimento que ia causar para os que ficaram vivos? Porque, tudo bem, ele estava sofrendo; mas quem ficou vivo com certeza amava ele, e vai passar anos tentando entender o que aconteceu para a situação chegar aonde chegou – isso se não ficar se enlouquecendo tentando se convencer de que a culpa foi sua, quando na verdade não foi.

Quando uma pessoa cai dentro de um poço, fica se esperneando, tentando desesperadamente sair de lá. Aí quando se cansa do esforço, desiste e se rende à gravidade, que a puxa para o fundo. Mas quando chega lá é quando ganha ânimo e energia de novo para se impulsionar para cima novamente. Essa é a teoria do fundo do poço. Ou seja: por pior que seja o problema, sempre tem solução – ou pelo menos uma forma de contorná-lo e superá-lo. O importante é não se desesperar e parar para sentir o fundo do poço, para poder, então, encontrar forças para voltar à tona. O desespero cega; é preciso relaxar um pouco de vez em quando. Como diz uma amiga minha, todas as fases da vida têm que ser vividas – inclusive a dor. Se você está vivo, você está sujeito a ela – mas quando ela passa, você também tem a compensação da recuperação e as risadas sobre o que passou.

Para encerrar, a frase mais verdadeira do mundo, por Carro Velho, o Rei do Elogio:

"Se alguém fechar as portas pra você, não se desespere: pule a janela! Você não é aleijado!"

E o quadro que abre o post é do pintor francês Édouard Manet, e se chama Suicídio.

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