A intromissão da Igreja

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O assunto parece papo de anti-cristo arruaceiro, né? Mas não é, não. Vivo dizendo, e repito: sou atéia, e não anti-cristo. Quero que isso fique bem claro aqui, para queninguém me crucifique antes de chegar ao fim do post.

Agora sim, o post. Esses dias eu estava vendo na Record, no programa Fala Brasil, uma matéria sobre uma acusação de que em alguns hospitais públicos administrados por instituições católicas estão se negando a fazer laqueadura de trompas. Por quê? Simplesmente porque a Igreja condena coisas como essas - ah, inclusive, também não estão fornecendo preservativos a pessoas carentes, porque aIgreja também é contra isso. Observação: a cirurgia é direito (viu? D-I-R-E-I-T-O) de qualquer mulher que já tenha se decidido por isso, e está em constituição: a saúde pública tem que oferecer isso. E de fato oferece, sim, só que nesses hospitais em que sentinelas da Igreja coordenam, eles se negam a cumprir com um direito previsto na constituição nacional.

Agora analizemos: a mulher já tem 15 filhos (já disse antes que hiperbole é característica dessa blogueira, mas ele é bom para explicitar o meu ponto de vista), não tem dinheiro nem para se sustentar, que dirá a esses 15 filhos, e quer fazer laqueadura, por motivos óbvios. Resguardada pelo seu direito de requerer essa cirurgia, dirige -se a um hospital desses, público, mas administrado por instituições católicas, e tem seu pedido negado, por uma simples questão de filosofias religiosas. Volta para casa, engravida mais uma vez - porque, afinal de contas, ela também não tem dinheiro para comprar anticoncepcionais e preservativos, e o mesmo hospital público, que deveria dar essas coisas para ela gratuitamente, se nega se apoiando nas mesmas filosofias religiosas - e dá à luz seu 16º filho. Em pouco tempo, possivelmente quase todos eles entram em um quadro de desnutrição, por motivos óbvios - como já foi dito, essa mulher não consegue nem sustentar a si mesma. Aí o conselho tutelar autua essa mulher por maus tratos, tira dela a guarda dos filhos e os distribui por orfanatos país a fora. E a mulher, que nem teve intenção de ser uma má mãe, acaba sendo acusada injustamente, e claro, condenada pela mesma Igreja, por deixar passar fome seus anjinhos. Contraditório, não?

Eu já fiz Técnico de Enfermagem (pois é, eu sou uma caixinha de surpresas), e já vi na prática no hospital como a religião pode ajudar alguém. Mas eu não chamo isso de religião. Acredito que as pessoas precisam de algo em que se agarrar. Tem gente que se agarra a crenças; tem gente que se agarra àquilo que as faz feliz, e isso não necessariamente é uma religião (meu caso): pode ser trabalho, estudos, ajudar os outros, enfim, uma porção de coisas. Não tem gente que corre para as drogas quando se vê em desespero? Portanto, não tiro o mérito da religião (de todas) nesse ponto. Mas acho que deveria haver um limite nas ações dos órgãos religiosos. O bom senso não deveria ser só dever de quem procura a religião, mas também (e acho que até muito mais) dos órgãos religiosos. (Por quê eu trato as religiões aqui como instituições? Porque são as instituições que causam os problemas. As religiões em si não têm nada a ver com isso; quem deturpa e complica tudo é esse serzinho esquisito que é o ser humano.)

A Igreja, na minha opinião, tem uma falha muito grande: a de tentar (e achar que pode) manipular o comportamento das pessoas. Haja vista a criação dos 7 pecados capitais (que não estão na Bíblia, pois foram criação da instituição mesmo), que nada mais são do que indicações de comportamentos ruins na vida do ser humano. As instituições religiosas têm feitos trabalhos louváveis pela comunidade em geral, como é de se esperar, mas existem pontos em que acho que ela não têm porque - e nem deveriam! - se meter. O caso das cirurgias de laqueadura de trompa e vasectomia é um. Ter um filho hoje em dia não é fácil: o gasto que se tem que ter para criá-lo de maneira decente é muito grande, e tem muita gente que não tem condições para isso. Elas não põe filho no mundo simplesmente porque querem povoá-lo, mas às vezes elas nem ao menos sabem como evitar isso. Mas parece que planejamento familiar é outra coisa que incomoda os religiosos. Duvido que Deus se incomodaria se uma mulher tomasse pílula anticoncepcional e evitasse colocar mais uma criança no mundo para sofrer com fome, frio, e possivelmente acabar nas drogas e morrer antes de chegar aos 20 anos; ela não iria para o inferno por tão "pouco".

Outra coisa é a camisinha. A cada dia mais gente se contamina com doenças sexualmente transmissíveis. Aí vem a ciência e dá um passo gigantesco para evitar isso: o preservativo. E, na contra mão, vem a Igreja, se intrometendo, dizendo que não pode usar preservativo. Quer retrocesso maior que esse? No mundo moderno em que vivemos, a conscientização para o uso de preservativo deveria ser tratada com muito mais seriedade.

Como eu disse, acredito que a religião seja um bom filão em que as pessoas poderiam se apoiar, se isso fizesse de suas vidas um pouco mais agradável; por outro lado, a igreja deveria parar para pesar um pouco suas filosofias com a realidade do mundo hoje. Têm coisas que não dá para ficar levando como se fazia a centenas de anos atrás; as coisas mudam, e as mentalidades têm que fazer uma forcinha para se enquadrar também.


3 comentários:

Anônimo 15 de outubro de 2009 às 17:49  

Mari,vc esqueceu de falar dos casos em que a Igreja proíbe o aborto quando de abusos sexuais.No começo deste ano,no nordeste,uma família foi excomungada por permitir que a filha de 9anos fizesse um aborto depois que sofrera abuso.Ok.O Aborto é proibido mas deixar uma criança perder sua infância por causa de um crime cometido por um adulto não é?Acredito que a igreja,ou melhor, as igrejas,incluindo a maioria delas (vide exemplos atuais da Universal)acabaram por se esquecer dos ensinamentos de Jesus Cristo.Ele não proíbe os homens de fazerem algo, para isso existe o livre arbítrio, entretanto, toda ação tem uma reação,uma consequência.E o home tem que estar consciente disso.Os homens são livres para fazerem o que quiserem, e não é a igreja que deve proíbi-los, mas ao mesmo tempo devem ter consciencia de seus atos. O problema é que infelizmente vivemos num país onde a população não tem educação(formal)nem crítica para entender e compreender as coisas.Acabam-se deixando levar pelo que outras pessoas ou instituições falam,por pura ingenuidade e ignorância.Também é preciso destacar que religião é diferente de fé. A pessoa(como eu),pode acreditar em Jesus ou algo superior sem se prender a uma religião específica.O que vale é fazer deste sentimento algo positivo, que lhe impulsione a ser uma pessoa melhor,ao mesmo tempo, fazer isto de forma crítica,sem ser pressionado pelas regras impostas por homens que se "acham" representantes de Deus.

Anônimo 17 de outubro de 2009 às 21:39  
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo 17 de outubro de 2009 às 21:39  

Ótimo post, Mari! Eu concordo com ele por completo, mas não sou ateu! (rs) O problema maior é que as religiões tornam-se não mais uma parte do indíviduo, mas ele por completo. E aí mora o problema! Eu acredito que Deus é uma experiência unicamente de fé, independente de qualquer outra coisa. Senti-la não está restrita a um lugar em específico.

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