Discussões democráticas e Velhas Virgens

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ontem aconteceu um evento daqueles "de repente": na quarta-feira à noite fiquei sabendo que no dia seguinte haveria um show do Velhas Virgens em Campinas. Como eu gosto pouco de música besteirol - e muito menos de Velhas Virgens -, óbvio que eu não perderia por nada. Mas ir a show sozinho não tem graça, né? Então eu usei de todo o meu dom de persuasão para convencer pessoas a irem ao show também, e como todo bom amigo meu, uma galera falou que ia, mas acabamos indo só minha prima e eu (leia-se: "Turassa, perdeu!" rs). Mas isso não vem ao caso.

O Marcos Frota está com o circo dele aqui em Campinas, e cedeu a tenda para o show. E como não poderia deixar de ser - o que é mais do que normal para um show de rock - tinha algumas pessoas fumando por lá. Eu só não tinha notado antes que eram relativamente poucas. E não é que tinha segurança no lugar pedindo para os fumantes apagarem seus cigarros? Pois é. Tava explicado o caso! Como todo mundo sabe, desde o mês passado, fumantes estão sendo censurados em lugares fechados. Mas não sabia que o negócio estava sendo levado tão a sério assim. Eu, particularmente, achei ótimo. Como já disse antes: que me perdoem os fumantes, mas eu adorei essa lei!

Para quem já viu um show do Velhas Virgens sabe: o Paulão (vocalista da banda) adora falar e causar um rebuliço. Eu fiquei em dúvidas várias vezes se ele falava porque acreditava mesmo no que estava dizendo, ou se era só pra alimentar os ânimos da galera. Outra coisa que não vem ao caso. Mas ele levantou dois pontos interessantes sobre democracia que achei interessante.

Primeiramente, levemos em conta as seguintes definições: segundo os dicionários, democracia é um sistema político no qual todos têm direito a voto. Nesse ponto o Paulão tem razão: os brasileiros não foram consultados quanto à aprovação dessas leis, o que, teoricamente, fere o direito de opinar do cidadão que pertence a uma democracia. Mas como ele mesmo disse em outro momento do show, imagina fazer um plebicito para isso? Seria mais uma desculpa para desvio de verbas. Muita confusão por nem tanto assim. Agora, liberdade já tem outro significado: em suma, direito que um cidadão tem de fazer o que quiser, desde (atenção a esse conectivo) dentro das limites da lei.

Segundo o Paulão, o governo quer interferir no direito que as pessoas têm para decidir o que fazem ou deixam de fazer. O primeiro ponto em que ele se baseou para falar sobre isso foi a Lei Seca: "Quem é que bate um carro se beber 1 só latinha de cerveja na noite?". Com certeza. Até aí tudo bem; eu também acredito que não é bem a bebida que causa os acidentes no trânsito que vemos por aí, e sim os motoristas. Mesmo porque eu seria hipócrita se discordasse dele, porque eu também costumo beber e dirigir, e nunca fiz bobagem no trânsito por causa disso. O problema não é "beber e dirigir" e, sim, "não saber beber e dirigir". Na minha opinião, a pessoa tem que assumir a responsabilidade por suas decisões, e se ela decide que vai beber e vai dirigir, então que ela saiba se controlar e reconhecer o momento de parar. Além do mais, Murphy é tão safado que eu nunca vi um bêbado se dando mal num acidente, mas as pessoas do outro carro (e de fora do veículo), que não tiveram nada a ver com a bebedeira do irresponsável, sim. Não estou defendendo o governo, que perde muito tempo e dinheiro procurando pelo em ovo, mas nesse caso eu fico do lado dele. Afinal, a lei só surgiu porque as pessoas aparentemente não conseguiam fazer a coisa funcionar sozinhas.

O segundo ponto era justamente sobre o cigarro. Tudo bem, concordo que o cara tem direito de fumar, se ele quiser, mas e o não-fumante, como fica? "Ah, é só não sair com fumante", dizem os fumantes com resposta (cretina) pronta. No meu caso, se eu resolver não sair mais com fumantes, não saio com mais ninguém praticamente. Aí o não-fumante tem a opção de não sair com fumantes? Mas para sair com seus amigos, eles podem optar por se sacrificar um pouquinho e aguentar a fumaça tóxica dos amigos. Parece justo isso? Se o não-fumante pode se sacrificar um pouquinho para estar com os fumantes, porque esses últimos também não podem? Qualquer relação humana sugere alguns pequenos sacrifícios de ambas as partes, se não ninguém se daria bem nunca. Amores da minha vida que fumam: eu já fiquei reclamando do cigarro de vocês? Não, né? Mas nunca neguei também que prefiro quando vocês não estão fumando. Pelo bem de vocês mesmos, porque odiaria perder um amigo por causa de uma droga de um câncer de pulmão ou um efizema (a cena, no hospital, é triste; vai por mim!).

Liberdade é um assunto muito complexo mesmo. Afinal, cada um define isso do jeito que quer. E já que todo mundo acha que pode fazer isso, eu também vou fazê-lo. Liberdade, na minha opinião, é o direito que você tem de fazer (ou não) o que bem entender, sem ninguém dando palpite ou tentando interferir de alguma forma. Só que a sua liberdade é uma coisa restrita a você. Se você acha que o que você vai fazer fai interferir na vida de alguém, você já tá invadindo o espaço do outro, e aí temos um problema. Se o cara quer fumar até o pulmão virar uma pedra de carvão e beber até o fígado ficar do tamanho de uma bola de basquete, (azar) direito dele; mas se a fumaça que ele produz queima também o pulmão dos outros, e a bebida q ele tomou vai torná-lo um risco à vida de outras pessoas nas ruas, aí o cara tá sendo um belo de um folgado, egoísta, que só se preocupa com ele. Num mundo em que é impossível se viver sozinho (pois é, por mais solitário que você seja, essa é a triste verdade do mundo), tão impossível quanto é fazer as coisas sem pensar nem um pouquinho nas consequências que suas ações podem ter.




1 comentários:

Anônimo 23 de setembro de 2009 às 11:43  

Prima, a melhor explicação para a palavra Liberdade que já li: "...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..." (Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência)

Sobre Pensamentos Avulsos...

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