Contos dos Irmãos Grimm

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os contos de fadas são histórias criadas para entreter, mas também para ensinar. Várias características comuns aos contos de fadas são importantes na formação psíquica e desenvolvimento pedagógico das crianças. Muitos estudiosos já trataram do assunto e talvez o trabalho mais interessante sobre isso é o livro A Psicanálise dos Contos de Fadas, de Bruno Betteheim (disponível para download integral gratuito aqui). Em seu livro, Betteheim faz uma profunda análise sobre os mais variados títulos de contos de fadas conhecida. O objetivo dos contos de fadas, portanto, é edificante e construtivo. Existe uma postura geral em que o bem sempre vence o mal e o mal sempre acaba perdendo. Um recado para as crianças escolherem desde cedo de que lado vale mais a pena ficar.

Os irmãos Grimm
No caso dos contos dos irmãos Grimm a história já é um pouco diferente. O objetivo inicial dos Grimm ao reunir seus contos em um único livro era simplesmente reunir as histórias contadas de boca a boca pelo povo alemão, que ainda não tinha o hábito de registrar essas histórias. Sem registro, elas estariam fadadas a morrer e desaparecer com o iminente fim da tradição de contar histórias. Nessa época, vários acadêmicos em toda a Alemanha estavam empenhados em criar formas de fortalecer o patriotismo do país, e os Grimm eram apenas alguns dos envolvidos nessa corrente.

Posto isso, engana-se quem acredita que o objetivo desses contos era proporcionar uma moral edificante. Muito diferente dos contos de fadas, é fácil notar várias características subversivas nessas histórias para crianças e adultos. A futilidade muitas vezes é exaltada em contraste a características mais nobres. Ser a mais bela, por exemplo, é sempre de importância vital. Essa característica lembra a mitologia grega, em que as deusas são extremamente vaidosas e vivem competindo para provar quem é a melhor no quesito.

Branca de Neve
Os homens, nos contos dos Grimm, também só têm valor quando são belos. Personagens feios se tornam
heróis/heroínas apenas quando adquirem beleza ou conseguem solucionar um problema físico. A relação de poder e beleza está sempre em evidência: o príncipe só se casa com a plebeia mais bela, é vencedor aquele(a) que consegue o parceiro mais belo. Na mitologia grega, os deuses escolhem os mortais mais belos para seduzir e os semideuses nascem apenas de relacionamentos com essas pessoas.

É possível notar uma forte relação com o número três: são sempre três provas, três concorrentes, três conselhos/conselheiros, três prêmios. Na mitologia, Cérbero, o cachorro de Hades, possui três cabeças. Na entrada do submundo existem três guardiões dos fios da vida das pessoas, as Moiras. Nos Grimm, o terceiro é sempre o bem-sucedido; geralmente o mais novo, o mais fraco, o mais desacreditado, como se fosse uma forma de compensação com relação às vantagens dos outros dois. Além disso, o universo parece conspirar a favor dos terceiros, por valorizarem suas boas características morais, como humildade, trabalho, obediência, disciplina.

A Princesa e o Sapo
Os contos dos Grimm, no entanto, não têm o objetivo nobre das fábulas e contos de fadas. Em muitas histórias, o personagem que leva a melhor trapaceia e vive pregando peças nos outros, às vezes sem punição. As punições, aliás, são sempre muito severas; consistem em castigos físicos e até em morte. Para fazer um paralelo com a mitologia grega, as punições aplicadas são sempre relacionadas a esforço (como Atlas e Prometeu) ou com transfigurações (Narciso).

Em termos de literatura, existe a teoria de que nenhuma história é totalmente original. Um dos fatos que comprova essa teoria é a possibilidade de se encontrar hipertextos nas histórias e de se estabelecer paralelos a partir daí. Não se trata de plágio, pois não é questão de cópia pura, mas, sim, de influência e criatividade para renarrar fatos – mesmo que não baseado em fatos reais. Outra hipótese é que toda história repassada oralmente tende a ganhar ou perder elementos. O trabalho dos Grimm foi reunir histórias contadas em toda a Alemanha. Em algumas delas foi possível observar um enredo semelhante e chegar-se a conclusão de que se tratavam da mesma história; outras, entretanto, só pareciam semelhantes, pois seus detalhes variavam tanto que era mais prático registrá-las como histórias diferentes.

Outra evidência, ainda, é a semelhança com os contos clássicos da mitologia. Mesmo entre a mitologia grega e a nórdica existem muitas semelhanças, com diferenças apenas nos nomes. A Alemanha sofreu influência da mitologia nórdica, por isso é normal que seus contos populares sejam semelhantes à ela.

João e Maria

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