Um mês para escrever

sábado, 21 de dezembro de 2013

Em geral vários artistas das palavras passam por um sério problema: nossa mania de sermos escritores de gaveta. Temos várias ideias – elas não param de aparecer a todo o momento, em todos os lugares, nas situações mais inusitadas possíveis. Aí decidimos fazer algumas anotações dessas ideias para não as perdermos e desenvolvermos melhor a história depois. Fazer anotações é ótimo, porque não há memória que chegue para tanta informação, que dirá para tanta ideia. O problema está no depois: dificilmente esse prazo chega e a uma grande história em potencial fica fadada a passar o resto da vida em esquecida em uma gaveta – ou em HDs computadores à fora, que é mais condizente com esse mundo moderno.


Sofrendo desse mesmo mal, o escritor Chris Baty lançou um desafio a um grupo de 21 pessoas (ele incluso): escrever 50.000 palavras em um mês. O desafio foi lançado em 1999 e deu tão certo que no ano seguinte ele resolveu aprimorá-lo, definindo um mês oficial para isso: novembro. E assim nasceu o NaNoWriMo, sigla que significa “National November Writing Month”, ou “Mês de Novembro Nacional de Escrita” em português. 


Como o mau hábito de postergafan pages independentes espalhadas por diversas redes sociais, fóruns animadíssimos e entusiastas que se unem no mundo real com um único objetivo: escrever.
r é uma característica arraigada em boa parte dos escritores no mundo todo, o negócio cresceu muito e continua crescendo mais a cada ano. Hoje o NaNoWriMo conta com mais de 300 mil participantes de todo o mundo, além de centenas de

O desafio é simples: escrever um romance com no mínimo 50.000 palavras entre às 0h00 do dia 1º de novembro e às 23h59 do dia 30 de novembro. Na verdade, contos também são aceitos, mas a soma de todos tem que ser as tais 50.000 palavras. Isso da uma média de 1667 palavras por dia, ou aproximadamente 4 páginas totalmente escritas. A ideia é simplesmente sentar e escrever, “como se não houvesse amanhã”. Teorias sobre a escrita sugerem exatamente essa técnica para “ativar” a criatividade: escrever, escrever e escrever; quando esquentar você já vai estar escrevendo algo com mais sentido e a imaginação já estará voando alto. E nada de ficar parando para corrigir coisas absurdas que você tenha escrito, como dizer que aquela garota loira de repente apareceu com cabelos vermelhos na festa do príncipe em um castelo bem no meio de uma grande metrópole do século XXI.

Exageros à parte, resolvi aceitar o desafio. Eu estou entre a centena de escritores com uma pilha de rascunhos que nunca saíram da gaveta e a rotina tinha me afastado bastante da minha arte, a ponto de afetar minha criatividade. Estava bem difícil sentar e ter ideias. Como qualquer tipo de atividade, quando você para de fazer, você enferruja. Com a escrita não é diferente.

Outro ponto à favor: o incentivo de outros. Realizar uma atividade sozinho é possível, mas pouco estimulante. O NaNoWriMo é uma comunidade de pessoas que estão no mesmo barco: escritores amadores que sonham em se tornar profissionais ou que escrevem pelo simples prazer que a arte proporciona. Elas trocam ideias e palavras de incentivo durante todo o mês (e fora dele também) para que ninguém desanime e para que todos consigam chegar até o final. Esse apoio é algo que realmente anima na jornada, especialmente nos dias mais fracos de inspiração.

Funciona? Talvez. Para mim funcionou em partes. Eu consegui pelo menos pensar na minha história todos os dias durante o mês de novembro (por sinal, boas ideias de cena para ela continuam surgindo a todo momento). Nem todos os dias foram frutíferos: em alguns mais inspirados eu passei de 3.000 palavras; em outros, com muito esforço consegui passar de 1.000 e atingir pelo menos a meta diária. Para ajudar, novembro foi um mês com muito trabalho para mim, e tinha noites que eu simplesmente estava cansada demais para pensar, que dirá escrever. Também tive outros contratempos e compromissos que me atrasaram e, no final, não consegui terminar o desafio: meu romance acabou em 42.090 palavras (99 páginas). 

Nos dias de pouca produção eu usei tantos adjetivos que até eu bocejava com tanta monotonia. O máximo de “não edição” que consegui foi não ficar voltando para corrigir o trabalho que já tinha feito, com uma única exceção: quando eu tinha uma ideia que precisava ser inserida no meio do texto que já estava pronto. Em geral, escrevi tudo com muito nexo e coerência, mas não fui capaz de fazer um brainstorm de ideias sem fim só para chegar à meta final.

De qualquer forma, fiquei extremamente satisfeita com meu resultado. Depois de anos eu consegui finalmente dar uma forma a uma de tantas histórias aguardando na fila para serem escritas. Meu romance segue uma linha lógica com 99 páginas, o que vai me poupar muito trabalho de edição quando eu for revisá-lo. Além disso, foi uma excelente experiência, por dois motivos: estimulou novamente meu processo criativo e meu prazer pela arte das palavras, e me proporcionou uma ótima técnica para trabalhar em meus romances parados aqui. 

Esse romance começado em novembro eu termino antes do final do ano (meta pessoal), para poder revisar lá para fevereiro ou março e dá-lo por definitivamente concluído. Aguardem as cenas dos próximos capítulos.


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