Conto de fadas moderno
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
Um dia, sem querer, Cinderella
conheceu o Príncipe Encantado. A princípio, nada havia de especial nele, exceto por sua realeza. O príncipe, por sua vez, lhe dizia palavras tão bonitas que
Cinderella chegou a considerar por um momento que ele poderia estar falando a verdade e de
fato gostar dela. Depois do longo período que foi preciso para criar coragem, a moça foi tirar a dúvida, porém, o príncipe a rejeitou,
dizendo que eles nunca poderiam ter um relacionamento.
Cinderella ficou muito triste.
Chegou até a sentir raiva de si mesma por ser tão ingênua. Como alguém como o
príncipe poderia um dia se interessar por alguém como ela? Não fazia mesmo o menor sentido.
E, como não poderia deixar de
ser, a vida seguiu em frente. Cinderella seguiu seu caminho, determinada a não
perder sua alegria. Estava empenhada em tirar o príncipe da cabeça. E
conseguiu.
Pelo menos era o que ela pensava.
Um dia o príncipe, que por coincidência ou força maior – quem saberia dizer?
–, havia sumido, ressurgiu. Ela agiu normalmente perante ele, como se nada
jamais tivesse acontecido, sem despertar qualquer suspeita. Só que o príncipe
voltou a cortejá-la. Agora, no entanto, ela estava mais cautelosa e passou a
ouvir as investidas do príncipe de outra forma, mais como elogios, para agradar
seu próprio ego, do que como palavras sinceras. O comportamento dele, por outro
lado, só a deixava confusa: se antes nunca poderiam se relacionar, porque agora
ele continuava a tentá-la? Para ela, tudo não passava de mais um blefe do
príncipe, aproveitando-se de sua posição, para se divertir com seus
sentimentos.
Um dia, eles se encontraram
novamente, em um baile. Ela tentou fingir que não o tinha visto, mas não teve
jeito. Ela tentou se esquivar, mas ele era insistente. O príncipe, então, a
tirou para dançar. E por mais que quisesse, ela não conseguiu resistir. O sentimento
há muito adormecido despertou com todas as forças, guiado pela esperança.
Eles dançaram. Dançaram a noite
toda. Dançaram até seus pés ficarem cansados. E foi tudo tão bom, e tão lindo,
e tão rápido, que mais aprecia um sonho.
E, como um sonho, no dia seguinte
já havia ido embora. Nem muito sentido fazia mais para Cinderella. O príncipe
nem se importou em procurar a dona do sapato perdido que encontrara. Na certa deve
tê-lo jogado em um porão escuro qualquer, com tantos outros pertences perdidos
e deixados para trás em seu palácio.
E doeu. Doeu muito. Mas um dia a dor passaria.
E, como não poderia deixar de ser,
a vida seguiu em frente. A vida não pararia, seja por vontade do príncipe, seja
por vontade de Cinderella, seja por vontade de quem quer que fosse. E
Cinderella, que já estava mesmo acostumada a ser sozinha, uma hora esqueceu
tudo de vez e se conformou com sua vida como ela era e viveu feliz para sempre.
Fim
0 comentários:
Postar um comentário