O problema são os outros
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Encontrar defeitos e colocar a culpa nos
outros é tão fácil que chega até a ser gostoso: quem nunca fez? Tem gente que
vai ler isso e jurar de pés juntos que detesta falar mal dos outros, que nunca
fez e que acha super errado. Para esse excelentíssimos leitores, fica o convite
para continuar lendo se quiser.
O fato é que ninguém (com exceção de uma
única pessoa que eu conheço) no mundo resiste a um comentário ácido, seja a
outras pessoas, seja atitudes em massa, seja a decisões governamentais. O
prazer em falar mal é tão grande que parece que se o defeito está em si próprio
ele se torna até mais gostoso de se expor e discutir. Mais do que falar mal do
outro, as pessoas amam mesmo é expor seus próprios problemas e defeitos,
provando o quão piores estão em relação ao resto do mundo. Ninguém quer “perder”
nem nesse quesito.
Todo mundo se acha no direito de julgar
e criticar. Justo. Afinal, quem pensa tem direito de refletir e criar uma
opinião sobre o assunto, seja ela qual for. Mas se ao criar uma opinião, você
corre o risco de não ser compreendido da maneira como gostaria (talvez você até
diga que foram os outros entenderam errado). Daí a importância de se conhecermais de um aspecto sobre o assunto antes de concluir o processo de reflexão e
criação de opinião.
Toda vez que o Brasil ganha destaque nos
jornais internacionais por algum escândalo popular alguns estrangeiros com quem
mantenho contato me enviam recortes de jornais de seus respectivos países e
comentam sobre o que leem, compartilhando sua opinião. O “bafão” da vez são as
manifestações populares de todo o ano cobrando justiça e fim da corrupção no
país. Todos os comentários podem se resumir a uma única opinião: “é, a situação
é chata, ridícula e desrespeitosa para o povo – mas nós também sofremos com isso aqui”. E antes que se pense que
meus colegas com essa opinião vivem em países árabes em constante guerra ou em
países africanos em situação de extrema pobreza, deixo bem claro que quase
todos os meus pen pals (pessoas com quem você se corresponde por carta) são
europeus (as únicas exceções são uma japonesa e uma americana). Esse comentário
sobre as notícias recentes da política brasileira, por exemplo, me foi dito por
uma suíça e uma alemã.
Aí aqueles que só sabem falar mal do
Brasil, mas debocham de atitudes importantes como votar e contestar decisões governamentais,
vão gaguejar, mas vão encontrar alguma desculpa para falar que eu não sei do
que estou falando. Porque na opinião deles o Brasil é um país tão intragável
que vale a pena mudar-se daqui a qualquer custo – inclusive ao alto preço de
viver em um país estrangeiro, sofrendo fortíssimo preconceito social e
assumindo os altos riscos da vida de um imigrante ilegal (para não mencionar a
humilhação de viver como um eterno foragido, caçado como um criminoso sem
escrúpulos).
O comentário das minhas colegas
europeias tem vários significados. É, sim, um tapa na cara de quem acha que os
outros países são o paraíso na Terra, em contraste ao inferno tupiniquim. É
também uma espécie de consolo, pois quando descobrimos que outros sofrem como
nós, percebemos que não somos nós os loucos e aprendemos a respeitar o
sofrimento do outro – e o nosso também. Quando achamos que só nós sofremos,
tendemos a nos desesperar. Mas ao aprendermos a respeitar o nosso sofrimento,
conseguimos parar, respirar e enxergar as possíveis soluções.
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