Nossas discretas autossabotagens

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Autassabotagem é o ato de, mesmo sem querer, agirmos contra nós mesmos. E, sim, todos acabam se atirando uma pedra vez ou outra. Que mulher nunca saiu de salto num dia de chuva? E que homem nunca foi com aquele sapato apertadíssimo ao casamento do melhor amigo e acabou sendo o último a sair?

Mas, vamos mais além. Às vezes somos tão rígidos conosco mesmo para não cometer erros e não falhar com os outros que acabamos por fazer justamente o que nos esforçávamos tanto para evitar. Uma falha banal com um amigo por causa de um evento externo qualquer pode nos deixar com a consciência pesando uma tonelada.

Para aliviar o peso da consciência é preciso coragem. Não é qualquer um que tem a bravura de ir atrás da verdade para esclarecer as coisas. Um evento externo acontece com qualquer um. Tem gente conhece isso melhor como acidente. Tudo bem, muda o nome, mas a cara é a mesma. O fato é que não é fácil encontrar coragem para desvendar um mal-entendido, principalmente quando sua autoestima anda meio fraquinha. Chega a parecer um esforço heroico ligar para aquele amigo e pedir desculpas por aquilo que você (acha que) fez.

Tudo fica muito melhor quando conseguimos nos imbuir de coragem suficiente e finalmente falar com os envolvidos. Então, descobrimos que, no final, não era nada do que pensamos. Tudo bem agora, posso respirar em paz então, certo? Errado! Não se esqueça que nos cobramos demais para não errar. Portanto, o foco da cobrança apenas muda: como pude ser tão tolo de dramatizar tanto assim uma coisa tão simples? E com essa pergunta vem a culpa por ter feito papel de bobo deixando que seus pensamentos neuróticos, fruto de traumas emocionais reais, te dominassem e te levassem a fantasiar coisas que nunca existiram, ou nunca foram maiores que um grão de areia.

O problema talvez seja estarmos sempre alertas. Se conseguíssemos relaxar de vez em quando perante dadas situações, nada disso aconteceria. Mas desde pequenos somos criados para fazer o “certo” e nos preocuparmos (sem nem bem saber com o que). E se temos problemas com a pobre coitada da nossa autoestima, é ainda pior, porque a “culpa” é sempre nossa, por mais que não seja.

Então alguém nos diz que precisamos estudar ou praticar esportes para nos fortalecer. Mas alguém já parou para pensar na autoestima? É difícil conhecer pessoas que realmente lembram-se dela e trabalham isso. E não é uma tarefa nada fácil: é questão de hábito, e por isso mesmo é mais difícil de resolver. Quando estamos acostumados a nos ver inferiores, é complicado encontrarmos pontos fortes em nós mesmos para reconhecer nosso próprio valor e nos apaixonarmos por nós mesmos. Nunca nos ensinam a nos amarmos, no máximo repetem isso insistentemente, sem reflexão, invariavelmente copiado de alguém ou algum lugar.


Quando sua autoestima está saudável, você não se automutila por qualquer coisa, nem culpa os outros pelos eventos externos. Esse negócio de ser uma rocha é balela, porque ninguém consegue ser tão durão assim. Mas fica muito mais difícil te ferirem mortalmente com algum mal-entendido. E sempre são mal-entendidos.

Conhecendo essa condição, a única solução possível é passar a dar mais atenção à autoestima e leva-la para uma caminhada de vez em quando: um cinema sozinho, um momento a sós conosco mesmo para ler um bom livro, nos dar um presente, nos enfeitar, qualquer coisa que nos lembre de que somos lindos, inteligentes e temos valor. É difícil, como toda mudança de hábitos, mas não é impossível. Vai a nossa inconformidade com o sofrimento causado pelo nosso autoataque e da nossa força de vontade.

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