Releituras
domingo, 19 de fevereiro de 2012
É tão comum vermos obras literárias ganhando prestígio nas telonas mundo afora que quando as livrarias oportunamente começam a vendê-las enquanto o filme está em cartaz temos a estranha sensação que o livro foi transcrito às pressas para aproveitar o sucesso. Muita gente não tem o costume – ou o prazer – de ler. Às vezes isso até as motiva a folhear a história; outras vezes fica só com o cinema mesmo. O fato é que o coitado do livro – e do escritor – acaba deixado de canto, com sua existência esquecida.
Entre tantas histórias escritas que têm sido interpretadas por aí, a campeã das campeãs é o conto de fadas “A Bela e a Fera”. Diretores talentosos já trouxeram esse conto à vida de diversas formas. Seja como a peça – ou filme – com o mesmo título, seja em releituras, ele sempre volta.
As últimas releituras conhecidas desse conto foram a popular saga “Crepúsculo”, baseado na obra de Stephenie Meyers, e “A Fera”, incentivado pelo livro homônimo de Alex Flinn.
O intertexto de “Crepúsculo” é tão clara, que é quase impossível de não se notar. Do nome dos personagens até os conflitos que os movem, tudo faz perceber uma nova visão da autora sobre a história. A única característica um pouco divergente é que em “Crepúsculo” não existe o conflito do “ou muda ou perde o que se dá valor”: desde o começo Bela ama Edward incondicionalmente, sem se importar se ele é mau ou não, e sem exigir uma mudança de sua parte. Bela é a mulher conformada com o amor que seu coração fisgou. Edward é o moço bonito, com defeitos, mas ainda sim, o sonho de toda mulher. Os dois estão satisfeitos com essa situação.
Já no caso de “A Fera”, essa conflito é mais claro. O rapaz mimado e arrogante, que cresceu assim pelo exemplo que tinha em casa, tem que aprender que existem coisas muito importantes na vida, mais até do que o dinheiro e a beleza, venerados nos dias de hoje como se fossem a razão de viver de uma pessoa, enquanto coisas simples, como cultivar amizades e o amor das pessoas próximas, ficam em segundo plano – quando têm algum lugar.
Em “Crepúsculo”, Meyers foi muito feliz ao aproveitar a intertextualidade com outras obras para desenvolver a sua própria, como as lendas sobre vampiros e lobisomens. Assim, acabou agradando a todos os gostos.
“A Fera” teve o mérito de aproveitar a oportunidade para fazer uma crítica muito acertada a questões sociais características do dia de hoje, como discriminação, bullying, ganância, egoísmo e desrespeito.
As duas obras tinham como público alvo os adolescentes. Assim mesmo, viraram um fenômeno de audiência entre as crianças e os adultos. Não há como negar que ambas foram grandes criações de suas respectivas autoras e, posteriormente, de seus respectivos diretores. Essas releituras não merecem crítica negativa com relação às suas adaptações.
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