O mercado dos sonhos
terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Com isso, o mundo da escrita ficou mais acessível. Hoje literalmente qualquer um pode escrever um livro e publicá-lo não é mais uma tarefa tão complicada. Trata-se ainda de um processo dispendioso, mas mesmo assim, um sonho bem mais fácil de alcançar.
E quem tem aproveitado o nicho para fazer algum dinheiro são as editoras. Nos últimos anos, novas editoras se proliferaram com uma velocidade incrível no mercado. A maioria das novatas vestiu a camisa de apoio ao novo escritor. Com essas editoras, o escritor consegue tiragens menores a preços nem tão exorbitantes assim, mas sua visibilidade é bem pequena e todo seu marketing depende praticamente só dele.
Algumas grandes editoras também não quiseram ficar de fora. Como reforça o alerta do excelente blog Um Livro Qualquer, muitas editoras se tornaram uma verdadeira empresa de livros que se especializam em se aproveitar do sonho dos outros para enriquecer. Elas ganham do escritor para lançar seu livro como um piloto. Se o livro não vingar, pelo menos não perderam nem um centavo se quer com a produção; mas se, por acaso, o autor se mostrar um sucesso em potencial, talvez ele seja “promovido” ao tipo de autores profissionais da editora.

E então surgem dia após dia infinitos cursos de escrita criativa e sobre o processo de publicação de um livro. Escritores que publicaram apenas um ou dois livros, mas foram um sucesso imediato de vendas para a editora, são incentivados a dar cursos desse tipo – para todos os gostos e bolsos – para angariar mais incautos para os bolsos das editoras. Os cursos em si não são ruins e nem quem os procura está errado. Atividades para melhorar uma habilidade é imprescindível para quem leva a sério um sonho. O cruel é o objetivo por trás da maioria desses cursos (porque nem todos são terreiros de editoras).
Destaco o seguinte trecho da matéria da revista Piauí:
“Ao se privilegiar as obras, se pressupõem que nem todos podem ser autores, e que nem todas as autorias são iguais. E nada mais natural, depois de tanto esforço de marketing a celebrar a figura do autor, que a obra tenha passado a ocupar um lugar secundário e insignificante.”
A obra perde status para o produto. Mais vale um autor carismático que o que ele escreve.
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